Luiza Campos*
O mundo atravessa uma intensa crise climática, percebida, de maneira mais contundente, pelas severas secas, nevascas, inundações e grandes incêndios florestais, além de outras catástrofes ambientais. Em julho de 2023, a temperatura média do planeta superou 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, marco que levou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a anunciar que já não mais vivemos a era do aquecimento global, mas da fervura global.
Os impactos podem ser sentidos na pele, inclusive em Belo Horizonte, onde já se observam os recordes de dia mais quente da história sendo sucessivamente batidos – por enquanto, a maior marca registrada foi alcançada em novembro de 2023: 37,9ºC.
Há décadas os alertas vêm sendo feitos por especialistas. Um marco importante foi a realização da ECO-92, no Rio de Janeiro, a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Em breve, o Brasil será novamente palco desse importante debate, com a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30) agendada para novembro de 2025, em Belém. Momento oportuno para o país liderar as discussões sobre a agenda do clima. O que mudou de 1992 até agora? Onde houve avanços, onde persistem os erros? Quais são as soluções possíveis?
Sem dúvida, os caminhos viáveis passam por soluções coletivas. Será necessária a aliança e o compromisso de governos e setores privados, cada um assumindo responsabilidade sobre os impactos que causam e investindo em inovações e processos mais sustentáveis. O sistema atual e prevalecente contempla as seguintes fases: extração – produção – consumo – descarte. Tem caráter linear, pois se encerra com o descarte de sobras e resíduos, o que provoca dois problemas básicos: os recursos são finitos e os bolsões de lixo continuam a crescer.
Há uma evidente sobrecarga dos sistemas naturais e produtivos e, nesse cenário, um novo modelo de produção e consumo ganha força como caminho viável e necessário. A economia circular parte do princípio de que os recursos devem voltar ao ciclo produtivo, por meio da reutilização, da reparação, do reaproveitamento, da reciclagem, considerando que não só é possível recuperá-los, como ainda agregar valor a eles.
Nessa jornada circular há uma figura fundamental, que responde pela quase totalidade do que o Brasil consegue reciclar: o catador de recicláveis. Há ainda um longo caminho rumo a um país mais sustentável, mas hoje são os 800 mil catadores, sendo 70% deles, mulheres, que dão contribuição fundamental na recuperação desses resíduos.
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) reconhece a importância dos catadores e seu papel central na cadeia produtiva dos bares e restaurantes. Por isso, ano passado lançou a campanha “De mãos dadas com catadores”, que promove a valorização e integração desses trabalhadores ao setor.
Um dos símbolos da campanha foi Carina dos Santos, catadora há 30 anos na capital mineira. Filha de catadora, aprendeu cedo a profissão, acompanhando a mãe pelas ruas. E é com seu trabalho que criou suas filhas. Gerações de mulheres atravessadas pela reciclagem e é pelas mãos delas que se aproxima um futuro mais circular. É preciso seguir com elas, de mãos dadas, sempre.
*Jornalista, especialista em Economia Circular e líder de ASG na Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel)