O Crescimento das Bets e a Crise de Vícios e Dívidas entre Trabalhadores

Publicado em 06/12/2024 às 06:02.

As apostas, conhecidas como “bets”, têm se tornado um fenômeno crescente no Brasil. Com isso, muitos apostadores estão perdendo dinheiro, e é cada vez mais comum trabalhadores recorrerem a empréstimos para pagar dívidas e contas básicas.

Todos buscam contar com a sorte, e apostar não é um problema em si. Na tentativa de ganhar dinheiro de forma rápida, as pessoas recorrem a apostas em bolões, loterias e jogos de azar. Contudo, quando o ato de apostar sai do controle e começa a prejudicar a vida da pessoa, ela desenvolve uma doença chamada ludopatia.
Casas de apostas prometem grandes recompensas, e quanto maior o risco, mais alto é o valor retornado. Por isso, a lógica de tentar recuperar o dinheiro perdido fazendo uma nova aposta de maior risco é incentivada nessas plataformas.

Esse ciclo de apostas, perdas e ganhos leva o indivíduo a uma jornada de obsessão, na qual cada vez mais são exigidos dinheiro, preocupação e saúde mental, resultando em muitos casos em um estado de vício.

As apostas podem ser um fator de adoecimento mental mais poderoso do que se imagina. Para Paulo Jelihovschi, psicólogo e líder de gente e jornadas da Abrasel, as apostas levam a pessoa para um ciclo de ansiedade que extrapola o campo individual e passa a ter impacto também no campo social. “A pessoa saturada mentalmente pelos jogos não consegue desenvolver as tarefas do cotidiano, não consegue manter a atenção e passa a viver em um estado de exaustão”, comenta o psicólogo.

Segundo o Datafolha, mais de 32 milhões de brasileiros dizem apostar ou já terem feito alguma aposta. O estudo aponta também que há grande capilaridade social e geográfica dessas apostas; pessoas de todas as classes e locais têm colocado parte de sua renda em apostas incertas.

Contudo, em uma pesquisa realizada pela AGP Pesquisas – publicado no jornal Folha de São Paulo – o fenômeno é mais comum entre jovens e homens. Entre as pessoas de 16 a 24 anos, quase um terço (30%) já apostou, sendo que 21% são homens e 9% são mulheres. O brasileiro gasta, em média, R$263 por mês em sites de apostas. A princípio, esses números não revelam a profundidade do problema mas milhares de pessoas têm se endividado e se encontram em estado de vício devido aos jogos de azar.

E do ponto de vista político-social, as apostas esportivas aumentam as desigualdades sociais e econômicas existentes. As pessoas de baixa renda são as mais vulneráveis ao apelo das apostas como uma promessa ilusória de prosperidade rápida. Esse ciclo de exploração é agravado pela falta de regulamentação rigorosa e pela promoção agressiva das apostas, que transformam o desespero econômico em um negócio lucrativo.

Os efeitos econômicos da ludopatia são profundos e abrangentes, refletindo um problema social significativo que afeta não apenas os indivíduos, mas também suas famílias e comunidades. A compulsão por apostas leva muitos trabalhadores a endividamentos severos, utilizando suas rendas em jogos de azar em vez de atender às necessidades básicas. A redução da produtividade e o aumento do absenteísmo são reflexos diretos da ludopatia no ambiente de trabalho, afetando a lucratividade e a sustentabilidade das empresas.

Além disso, as pessoas afetadas por este vício frequentemente necessitam de tratamento psicológico e médico, muitas vezes financiado por recursos públicos. Isso demonstra como a ludopatia é um problema que transcende o nível individual, tornando-se uma questão de interesse público que exige políticas eficazes de prevenção e tratamento para proteger os mais vulneráveis e reduzir os danos sociais e econômicos causados por esse comportamento compulsivo.
 

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