Sommelier: um contador de histórias

Publicado em 17/05/2024 às 06:00.

Ludmilla Fonttainha*

Muita gente me pergunta o verdadeiro papel de um sommelier em um bar / restaurante ou no supermercado. Será que a função dele é apenas indicar um bom rótulo diante do gosto brevemente relatado pelo cliente ou se restringe a sugerir uma opção de harmonização diante da tríade gosto X custo X benefício?

A função de um sommelier, seja de cerveja, vinho, cachaça, água – entre outros – vai além dessa tarefa básica que todos conhecemos. 
O sommelier nada mais é que um contador de histórias! Um profissional bem-preparado que consegue, em poucos minutos, dar uma aula que envolve história, geografia e percepções pessoais. E é essa função que tanto encanta quem ouve e quem procura algo diferente. E exatamente aí o conhecimento vai sendo espalhado, de boca em boca, de ouvido em ouvido, de copo em copo, de mesa em mesa... Tem coisa mais gostosa que saber contar sobre uma uva, falar sobre o processo de plantio ou algum “causo” daquela vinícola quando se vai abrir uma garrafa entre amigos? Ou, nesse “boom” cervejeiro que ainda vivemos, saber contar sobre a origem de determinado estilo, reconhecer o aroma ou saber o porquê do nome daquela cerveja? Quem nunca parou para ouvir um sommelier não sabe o que está perdendo! Com ele, existe um vasto repertório de conhecimento, muitos que nem fazemos ideia que poderia existir!

E esse “envolvimento” que o profissional faz contribui diretamente com a cadeia econômica. Ao apresentar um rótulo diferente, uma bebida premiada, uma outra que acaba de ser lançada, ele pode encontrar ali alguém que vai ser consumidor fiel e levar esse gosto para os amigos. Todos nós, ao dividir determinada bebida ou comida com alguém, expomos nossos gostos pessoais e fazemos da pessoa que recebe um novo consumidor. E assim o ciclo vai se formando...

Um problema é que o mercado do sommelier ainda não é muito claro nem no mundo nem no Brasil. Não se tem um número preciso de profissionais atuantes. Isso porque não existe uma determinada grade curricular fixa da profissão, como engenheiros, médicos, dentistas etc. Nem uma única instituição que possa regulamentar, como os conselhos federais no Brasil. Espalhadas pelo país, encontramos diversas escolas que oferecem cursos variados para a formação destes profissionais, mas cada um é montado de acordo com a percepção de mercado de cada coordenador de curso. E só por isso essa profissão é menos importante? A resposta é: não!

Tanto que no dia 26 de agosto de 2011 ela foi regulamentada pelo governo brasileiro, reconhecendo essa importância no setor de alimentos e bebidas. 

Ainda sobre a contribuição econômica, o sommelier não só apresenta o produto para o consumidor quanto também auxilia o empresário sobre quais rótulos adquirir de acordo com o público, fazendo uma curadoria e deixando o negócio mais direcionado. O sommelier também contribui diretamente na montagem dos cardápios, podendo trazer informações que estimulam o consumo.

Sem falar que ele “encoraja” o consumidor, fazendo a pessoa experimentar algo que jamais pensava, conseguindo, muitas vezes, mudar e expandir o gosto de quem compra. O sommelier é a ponte entre a compra feita pelo dono do comércio - que é o investimento - e a venda - culminando no lucro. 

E voltando à visão como consumidora, nada mais prazeroso que fazer um investimento certeiro de comida e bebida... Esse cuidado fideliza e contribui diretamente para rodas de conversas mais interessantes e informativas! Um brinde aos sommeliers, os verdadeiros contadores de histórias! 

* Jornalista, sommelier de cervejas, integrante da Confece - Confraria Feminina de Cerveja 

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