Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

A eleição chegou. E agora José?

Publicado em 30/09/2022 às 06:00.

Em destaque o poema de Carlos Drummond de Andrade intitulado "José", de 1942. Vide algumas partes e reflita os sentimentos que o autor buscou transmitir.

“E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?
Você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? E agora, José?
A noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? 
Sua incoerência, seu ódio - e agora?
Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora?
Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde?”

Se você identificou e percebeu sentimentos de solidão, falta de esperança e falta de rumo, este foi o intuito do poeta ao retratar um indivíduo na cidade grande. E trazendo para nosso momento atual, pode ser que boa parte do país sinta o mesmo no imediato momento pós-eleição. Eu inclusive!

Depois de anos difíceis na história mundial e no Brasil, eis que chega o que alguns bradam como festa da democracia. Enfrentamos estupefatos em um passado recente uma sucessão de escândalos de corrupção em todos os níveis da federação. Milhões e milhões dos nossos suados impostos sugados para projetos pessoais e partidários. E agora José?

Quando achávamos que a luta contra a corrupção avançaria no país, houve um brutal retrocesso e um sentimento amargo envolveu as pessoas de bem quanto à impunidade desse país. E agora José?

Tivemos ainda a pandemia da Covid que atingiu todo o mundo de forma sorrateira e devastadora. Mortes em série, famílias destroçadas, empregos perdidos, aumento da fome, da pobreza e da desigualdade, maiores casos de depressão e suicídios, relações humanas, econômicas e sociais atingidas radicalmente.

E se não bastava iniciou uma guerra, a invasão da Ucrânia. A ambição humana de um governante irresponsavel atinge diretamente uma nação soberana, com mais mortes e famílias destruídas. O mundo em sua totalidade atingido novamente por tristes questões humanitárias e econômicas.

Eis que quando damos conta estamos às vésperas do dia das eleições no Brasil. Em dois dias elegeremos quem ditará os rumos do país e dos estados. Presidente, governadores, senadores e deputados. Muitas interrogantes e preocupações com o que está por vir no pós-eleição. E agora José?

Primeiro, por suposto, se haverá segundo turno para presidente e para governadores nos estados. Caso ocorra, mais algumas semanas até o dia 30. Pode ser boa oportunidade para conhecer melhor os candidatos e suas propostas. Sem o grande número de candidatos proporcionais, o foco fica mais nítido.

Mas por outro lado, podemos ter como pontos negativos mais alguns dias da radicalização e beligerância eleitoral pela forte polarização. Sem contar que adiamos o retorno da normalidade da gestão pública, praticamente interrompida em seus projetos, programas e ações pelo momento eleitoral com suas determinações legais.

Com o país dividido, independentemente dos resultados dos pleitos, e cada um a sua maneira, o mesmo sentimento do poema de Drummond estará em parte considerável das pessoas. E agora José?

Imprescindível que os eleitos e os derrotados, independentemente se em primeiro ou segundo turno, reconheçam o resultado eleitoral e absorvam em absoluto a gravidade do momento atual e virem a página das discussões eleitorais em prol dos brutais desafios e soluções que todos almejamos.

E especificamente aos vitoriosos, a importância e atenção à nobreza da missão dada, para com humildade e sabedoria, atuem exclusivamente em prol do interesse público e do bem comum. Então, é isso. Esperança e fé José!

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por