Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Brasil: um gigante em declínio

30/07/2021 às 19:58.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:33

Alguém disse um dia desses que brasileiro não desiste nunca. Pode até ser, mas sentimentos bem negativos são explicitados em uma recente pesquisa realizada pela empresa Ipsos, intitulada “Broken-System Sentiment in 2021”, em 25 países.

Em clima de olimpíada, ostentamos uma triste medalha de ouro, dentre os países pesquisados, no quesito sensação de viver em um “país em declínio”, conforme 69% dos entrevistados brasileiros. Pelo dicionário de português on line, declínio significa “estado de decadência; condição do que está ruindo”. Além disso, 72% dos brasileiros disseram acreditar que a sociedade do país está falida.

Segundo Helio Gastaldi, diretor da Ipsos, “encontrar o Brasil em 1º lugar em um ranking tão negativo nos obriga a refletir a respeito de como estamos caminhando como nação e que tipo de futuro estamos construindo”. Ele continua: “É importante que as pessoas se sintam desconfortáveis com a posição que ocupamos neste ranking e vejam estes números como um convite para um debate mais amplo sobre o que nos trouxe até este ponto e o que temos que mudar para reverter essa tendência”.

O momento é grave e requer união nacional em prol da reconstrução do país. Crescimento da desigualdade, aumento das doenças psicossomáticas, desemprego e um sentimento nefasto de vulnerabilidade e perda de protagonismo, principalmente entre os jovens.

A política, arte de ditar rumos a um país, está fragilizada, com instituições inertes e grave crise de representatividade, com um perigoso processo de desconexão entre representantes e representados. Interesses corporativos e pessoais encontram campo fértil na prevalência e sobreposição ao bem comum. Um perigoso ambiente de intolerância e uma estratégica polarização maniqueísta, que vai contra o pluralismo político e de ideias de todo país livre e democrático, são desnudados por falas e comportamentos de líderes e seus séquitos.

Ataques à democracia e aos seus tão caros princípios vêm sendo perigosamente ostentados e ditos como se fosse uma panaceia frente aos problemas nacionais. De forma incongruente e incoerente, institutos democráticos da liberdade de expressão e de manifestação são utilizados na pregação de ideais totalitários.

Um ano eleitoral se avizinha. Só conseguiremos reverter este triste sentimento nacional de “país do declínio” se tivermos disputas com candidatos equilibrados, lúcidos e cientes de seu papel histórico de estadistas no processo de reconstrução do país e a verdadeira liderança que o Brasil requer. Nós, cidadãos, exigimos debates propositivos, factíveis e atentos à gravidade do momento.

A busca do poder é legitima e em concordância ao Estado Democrático de Direito. Mas não como um fim em si mesmo, e sim como um meio para proporcionar melhor qualidade de vida a todos.

Fiquemos atentos e participemos devidamente do processo eleitoral. Só assim deixaremos um país melhor para as próximas gerações.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por