Como o ar que respiramos, os chatos estão em todos os lugares, seja no âmbito familiar, no ambiente de trabalho, na vizinhança, na academia, nos grupos de WhatsApp, e por aí vai. Às vezes até sozinhos, em algum momento, nos achamos meio chatos, não é verdade? A verdade é que, se todos estes tipos pertencessem a um único país, talvez a República dos Chatos teria uma população maior que a China.
Interessante que no íntimo eles não se sentem chatos, pelo contrário. O gênero chato se subdivide em várias espécies. Têm os inconvenientes; têm os famosos sem noção; têm os arrogantes; têm os donos da verdade; têm os intolerantes e radicais; têm os que cutucam; têm aqueles que, quando você pergunta como está, ele explica nos mínimos detalhes; têm os canseiras dos prolixos; têm aquele que, quando você chama por educação para passar lá, ele vai; têm os que não deixam ninguém falar, tipo ele mesmo pergunta, responde, comenta e depois talvez até discorde dele mesmo; e ainda os que se julgam sabedores de tudo, apenas para exemplificar algumas espécies de chatos.
Um grau mais elevado é o considerado “chato de galochas”. Com dons especiais, é como se fosse um "chato especial", diferenciado, ou seja, mais chato que o habitual. Quanto à origem da expressão, acredita-se da década de 1950, em que a maioria das ruas não tinha calçamento e, quando chovia, ficavam enlameadas. Segundo o portal significados.com, "chato de galochas" é um chato resistente, característica da própria galocha. “Deste modo, mesmo com condições climáticas adversas, o chato calçava as suas galochas para importunar outras pessoas. Muitas vezes, o chato entrava na casa das pessoas de galochas, molhando e sujando toda a casa do anfitrião, que com certeza ficava desagradado com tal demonstração de desconsideração”.
E onde o país de um dos maiores IDHs do mundo, das belas paisagens, dos famosos chocolates e dos relógios caros, citado no título desta coluna, entra na temática dos chatos? Bem, o ponto é que um chato pode ter rejeitado o direto à cidadania suíça com a consequente negação de emissão do passaporte daquele país.
Cabe dizer que na Suíça, além dos pré-requisitos legais, os residentes locais, e não autoridades federais superiores, é que são consultados quanto aos pedidos de cidadania de interessados na respectiva localidade.
Assim sendo, um curioso acontecido se passou com a holandesa Nancy Holten, 43 anos, vegana, ativista fervorosa dos direitos dos animais e, para boa parte dos moradores de sua comunidade, uma “chata de galocha”. Foram duas tentativas para conseguir o passaporte suíço. A primeira em 2015 e, mesmo cumprindo os pré-requisitos legais e documentais, foi rejeitada pela localidade em que vivia por 144 dos 206 residentes, por ser considerada demasiadamente chata.
Segundo matéria da BBC, “a mulher ganhou fama de encrenqueira, depois de se manifestar não só em uma campanha contra as tradições locais de colocar sinos em volta do pescoço das vacas, como também contra corridas de leitões, corridas de cavalos locais, caça, distribuição de leite nas escolas e churrascos dominicais. A mulher foi tão insistente, que, não satisfeita em se manifestar contra uma tradição cultural, criou até mesmo uma página anti-sino de vaca no Facebook e também fez campanha contra os sinos da Igreja da localidade”.
Entretanto, após a segunda tentativa e com recursos a autoridades superiores, Nancy finalmente conseguiu a cidadania daquele país. Mesmo sendo chata!
Nossa legislação pátria é diferente. Mas indubitavelmente não só podemos, mas devemos evitar, excluir, anular, desconsiderar e ignorar os chatos que nos rodeiam, em prol do nosso precioso tempo e da nossa saúde metal.
E então, lembrou de algum chato que te rodeia?