Apenas parafraseando um dito ou uma crença popular. Mas na realidade o momento pelo qual o belo país vizinho passa não tem a ver com sorte e nem com azar.
Em relação ao jogo, a bela conquista do Mundial do Qatar por suposto não teve relação com sorte, mas deve-se a uma equipe coesa, sem ostentações e soberbas de “suas estrelas” e principalmente à genialidade do craque Messi, um líder em campo e uma pessoa centrada em sua vida profissional e familiar.
Quanto à conjuntura política, econômica e social do país, a situação é gravíssima e deveras preocupante. Ingredientes como populismo irresponsável, corrupção, incompetência e irresponsabilidade administrativa se destacam nos governos das últimas décadas que colocaram o país na situação atual.
Pasmem! Nas três primeiras décadas do século passado, a Argentina era um dos países que mais cresciam no mundo. Em parte desse período, ostentava um PIB per capita maior do que da Alemanha, França e Itália.
A situação mudou diametralmente. A inflação anual está acima de 100%, a maior taxa desde 1991. E para agravar a maior seca no país em 60 anos, que deve reduzir em até US$ 25 bilhões as exportações da safra 2022-2023, numa queda de 48% em relação ao ciclo anterior.
Em declaração para O Globo, o presidente da Sociedade Rural Argentina Nicolás Pino, alardeou: “É uma perda que levará a economia inteira a sofrer, pois a agropecuária é quem mais gera dólares. Haverá sangria em vários setores e nas contas públicas”.
Segundo dados do Indec, o IBGE argentino, 43,1% dos argentinos (19,8 milhões) estão abaixo da linha de pobreza. Assim, entra em cena o governo com as políticas de subsídios nas contas de luz e gás para mitigar as graves consequências sociais.
Para financiar essas políticas, ao invés de drásticas medidas de redução da despesa estatal, o mecanismo mais fácil utilizado pelos governos é aumentar impostos. Por exemplo: a taxação do governo argentino sobre a produção agropecuária está entre as mais altas do mundo. Há alíquotas de até 35% sobre exportações de alguns produtos.
Um destacado exemplo de irresponsabilidade administrativa. Segundo o Instituto Argentino de Análise Fiscal, nos últimos dez anos “o funcionalismo nas três esferas de governo aumentou de 2,7 milhões para 3,4 milhões (17,4 pontos percentuais acima do aumento populacional)”.
A eleição presidencial se avizinha na Argentina. Em outubro os hermanos decidirão o destino do país. Por suposto a situação econômica e social se agravará ainda mais até o final do ano. Na ordem do dia, temas inevitáveis como superinflação, pobreza, salários desvalorizados, ineficiência das políticas públicas, subsídios governamentais e propostas para salvar o país. Algumas milagrosas outras até factíveis. Mas o remédio será amargo. Não há outro caminho.
A aguardar quais candidatos realmente postularão e como a população manifestará sua escolha, se por um outsider ou por um político de um partido tradicional. É fundamental termos países no continente com democracias estáveis, economias pujantes e governos responsáveis que sobreponham políticas públicas efetivas ao nefasto populismo, tão comum no continente e facilmente “vendável”.
Só assim reduziremos a pobreza e a brutal desigualdade na região. E que nosso encantador país vizinho saia em definitivo dessa crise para além dos agradáveis cafés e restaurantes de Recoleta e Palermo.
Doutor em Direito pela UFMG e professor da Academia da PMMG