Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Leitura recomendada aos antibolsonaristas que querem o bem do Brasil

Publicado em 16/12/2022 às 06:00.

A polarização da eleição presidencial deste ano foi arduamente trabalhada tanto por Bolsonaro quanto por Lula e apoiadores de ambos para minar qualquer possibilidade factível de uma terceira via, por motivos óbvios e estratégicos, por suposto.

Ambos tinham clareza, mediante detalhadas pesquisas qualitativas e quantitativas, de que a maioria dos eleitores nutria um explícito desejo de uma outra alternativa, com severas críticas ao estilo de Bolsonaro e de Lula governar.

Ao fim e ao cabo, coube ao eleitor a decisão entre Bolsonaro e Lula. Parcela decisiva do eleitorado definiu por um deles não por amor, crença ou devoção, mas para derrotar o outro, ou seja, prevaleceu o voto antibolsonaro e o voto antilula.

Bem, findado o processo eleitoral, às vésperas da posse de Lula, como se portarão os cidadãos dos poucos mais de 60 milhões de votos dedicados ao candidato petista? Parte destes, dos petistas e lulistas convictos e apaixonados, o apoiarão de forma irrestrita, não importa se forem praticados atos ilegais, imorais ou incompetência gerencial. Sempre com a cortina de fumaça de narrativas desconexas com a realidade.

Já para aqueles que votaram em Lula para derrotar Bolsonaro, atitude plenamente legítima, a expectativa é a de que sejam cidadãos críticos e participativos do dia a dia da gestão presidencial. Elogiar as medidas corretas e que atendam ao bem comum e tecer críticas naquelas contrárias ao interesse público. Doravante, o silêncio não tem aderência e nem coerência com o fortalecimento democrático, com o desejo de um país melhor, com menos corrupção, mais justo e menos desigual.

O que pensam do voo para a Grécia no jatinho de um empresário após eleito para a Cop-27? E do aumento de 23 para 35 ministérios? E da indicação de Mercadante para o BNDES e a mudança da Lei das Estatais?

Interessante observar que setores da grande mídia que na campanha atuaram
fervorosamente pró Lula, estão tendo uma postura em conformidade ao esperado da mídia, ou seja, elogiar e criticar, conforme merecimento das medidas tomadas. Vide exemplos.

Editorial de o O GLOBO, 15-02, sobre ataque a Lei das Estatais: “Luiz Inácio Lula da Silva nem tomou posse, mas já dá sinais de que exigirá vigilância constante”. Na mesma linha, coluna de Merval Pereira: “Vale a pena ver de novo? PT dá sinais de que não aprendeu com o passado”. Coluna Miriam Leitão: “De fantasmas e retrocessos”. Capa do Estadão: “Mudança em lei facilita loteamento de estatais”. E no seu editorial: “Lula fiel ao atraso”.

Tudo indica que está abrindo a porteira para indicações exclusivamente políticas para as estatais. A quem interessa isso? O reflexo disso virá mais para frente. Prenúncios negativos de gestão ineficiente das mesmas e a repetição de corrupção, para atender interesses pessoais, políticos e partidários.

Será que vai colar o “eu não sabia de nada que se passava lá dentro”?

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