Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Lula e seu capital político que derrete como gelo no deserto

Publicado em 02/06/2023 às 06:00.

Na coluna da semana passada escrevi que em uma disputa eleitoral vitórias e derrotas não se dão da noite para o dia, mas são processos contínuos dos candidatos que incluem suas falas (discursos, entrevistas e postagens), suas ações e omissões frente a fatos concretos. Vide vitórias de Bolsonaro em 2018 e Lula em 2022.

O mesmo se dá em relação à governabilidade, que nada mais é que a capacidade de os governos implantarem políticas públicas e lograrem êxito na aprovação de leis pelo parlamento em conformidade com sua concepção programática e que atendam à coletividade.

Lula foi eleito ano passado em uma eleição duríssima, e no segundo turno ampliou seu leque de apoios com partidos e setores da sociedade mais ao centro. O próprio cunhou a expressão Frente Ampla para caracterizar seu leque de alianças, que resultou vencedor.

Posto isso, o entendimento óbvio seria, ganha-se com Frente Ampla, governa-se com Frente Ampla, dando a entender que não seria um governo genuíno de esquerda, mas o resultado das mesmas forças que o levaram a vitória.

Bem, com menos de 6 meses de governo, percebe-se como nunca antes nesse país que o Presidente Lula vem perdendo de forma acelerada seu capital político, em âmbito interno e na esfera internacional, por alguns fatores dispostos a seguir.

O primeiro deles é o único que não é de responsabilidade pessoal e direta de Lula. O Brasil possui um carcomida sistema presidencialista, que induz a uma promíscua relação entre executivo e legislativo e possibilita uma estranha convivência de um presidente de esquerda e um congresso de centro-direita. Não tem como avançar em pautas convergentes. Apenas para reflexão, imagine Bolsonaro reeleito e um congresso de esquerda. Por suposto a governabilidade estaria também comprometida.

Os demais fatores para o derretimento do capital político são de responsabilidade exclusiva de Lula. São fatores que uns mais outros menos, têm consequencias na imagem do país mundo afora e naquele eleitorado fora de sua bolha que foi decisivo para sua vitória ano passado. Ou ainda afasta ainda mais setores já avessos a ele, dificultando ainda mais a governabilidade.

Apenas alguns exemplos: inchaço do governo, aumentando de 23 para 37 ministérios; silêncio ensurdecedor quanto a invasões do MST; mudanças retrógradas no marco do saneamento; postura rancorosa de Lula ao dizer em entrevista que iria f#der Sérgio Moro; também disse ser armação de Moro após a PF deflagrar operação do PCC que planejava matá-lo; equiparar a culpa da Rússia com Ucrânia;  afagos a Maduro e à ditadura na Venezuela, causando indignação e repulsa nacional e internacional. E mais recente a indicação do seu advogado e amigo Cristiano Zanin para o STF.

Apenas sua restrita bolha sente-se contemplada. Por outro lado, cada vez mais formadores de opinião e setores de centro que o apoiaram nas eleições, não pelos seus belos olhos, mas sim para derrotar Bolsonaro, estão perplexos e refletindo acerca de um possível estelionato eleitoral.

Vemos um governo sem coordenação política nem administrativa, que não dialoga com outros setores e sem um projeto para o país. Lula não entendeu que o Brasil de agora é diferente daquele de 2002. Engana quando pensa que recebeu um salvo-conduto das urnas para dizer o que pensa, reforçando concepções ideológicas atrasadas e discursos populistas que não levarão o país a nenhum lugar. Pelo contrário, retrocederá.

Sua bolha brada que após sua vitória, o “Brasil Voltou”. Lembrando do clássico filme de 1985 De Volta para o Futuro, Lula parece estrelar o De Volta para o Passado.

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