“It’s the economy, stupid!”. Esta clássica frase foi dita por James Carville, estrategista do candidato democrata Bill Clinton em 1992, acerca do processo eleitoral dos Estados Unidos. A dúvida entre os analistas era qual tema prevaleceria e seria decisivo na disputa, o que motivou a frase disposta acima.
Bush, então presidente e candidato à reeleição, tinha elevada aprovação após a invasão do Iraque. Mas os Estados Unidos atravessaram uma forte crise econômica, o que fez com que o apoio ao republicano fosse reduzido drasticamente com a consequente vitória de Clinton, que focou no tema economia durante a campanha.
Partindo da frase de Carville, o tema economia passou a ocupar espaço primário na atenção dos analistas e marqueteiros nas eleições mundo afora, incluindo o Brasil. Dizia-se com frequência que a situação econômica elegeria ou derrubaria um candidato, posicionando os demais temas com menos relevância para o eleitorado.
Portanto, ao fim e ao cabo, definida a vitória de Lula, uma análise detida da nossa eleição presidencial nos indica que não foi a economia o fator decisivo para a escolha do petista pela maioria dos eleitores.
Importante salientar que a pandemia da Covid e a guerra da Ucrânia trouxeram efeitos bem negativos para a economia global. Em alguns países as consequências estão sendo mais graves em detrimento de outros, com inflação alta, desemprego elevado e baixo crescimento.
No Brasil, a condução da economia no governo Bolsonaro se destaca positivamente quando comparada a outros países. Estamos crescendo mais que as sete maiores economias do mundo. A inflação vem desacelerando nos últimos meses. O desemprego, que estava em 14,9%, foi reduzindo e hoje está em 8,9%. Somados a regularidade do pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600, o consumo das famílias nos supermercados cresceu no acumulado do ano 3,84%, retratando o momento econômico do país.
Entretanto, estes números positivos não foram suficientes para a reeleição de
Bolsonaro. Apresento para reflexão, a meu juízo, três fatores representativos que impulsionaram sua derrota, atestando que o voto na eleição presidencial se mostrou mais voltado para a pessoa do candidato do que a questões ideológicas, conjunturais ou programáticas.
Assim sendo, apenas um exemplo a ser citado concerne na forma como Bolsonaro
conduziu a gravíssima, singular e devastadora pandemia da Covid em suas entrevistas, ações e opiniões. Como consequência, arranhou sobremaneira e de forma irreversível sua imagem perante parte do eleitorado, limitando e até queimando potencial conquista de votos.
Isso não é achismo! Pesquisas sérias confirmam esta tese. Outro ponto de destaque é algo extremamente estratégico. Uma candidatura exclusivamente identificada como de esquerda ou de direita tem enormes dificuldades
de lograr êxito se não se aproximar do eleitorado de centro, que define uma eleição no Brasil.
Em 2002 Lula já aprendera a lição e foi certeiro quando teve o saudoso empresário José Alencar como seu vice, o que foi deveras importante para sair da bolha da esquerda, amenizar o medo de votar num candidato petista e ganhar eleição com apoio de parte do eleitorado de centro e do setor produtivo.
Neste ano, Lula repetiu a estratégia vitoriosa quando convidou Alckmin, com perfil ponderado e de diverso campo político para ser seu vice, atraindo setores do centro e um eleitorado não cativo e até meio avesso ao petismo.
Já Bolsonaro passou mais da metade do seu mandato centrado em seu já seguro
eleitorado, voltado quase que exclusivamente para sua bolha da direita. Quando resolveu mover o pêndulo, era tarde demais. Ademais que não obstante seu candidato a vice, o general Braga Netto, ser uma pessoa super qualificada, capacitada, polida e de caráter, é um nome oriundo da sua bolha.
Portanto, não incorporava o perfil para a necessária estratégia de atrair o eleitorado centrista, decisivo para a vitória. Foi uma chapa tipo pão com pão. E, por fim, lembremos de Sun Tzu no clássico "A Arte da Guerra". Assim como na guerra, na política não se deve subestimar o adversário, nem superestimar a respectiva capacidade de seu exército. Ficam estas lições para os próximos pleitos!