Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

O líder moderno e as “roupas do passado que já não servem mais”

Publicado em 09/08/2024 às 06:00.

O dinamismo e a complexidade do mundo atual impõem a todos nós resiliência frente aos diários desafios e problemas. Para os que estão em posição de liderança ainda mais, independentemente se em organizações públicas ou privadas.

Pertinentes reflexões do professor da Fundação Dom Cabral e especialista do tema Pedro Mandelli, em entrevista postada no portal da conceituada instituição acadêmica.Vide resumo da entrevista à seguir.

- Existe uma máxima popular de que uma pessoa ‘nasce líder’. Qual é a sua visão sobre isso? A liderança é um dom ou deve ser desenvolvida? O que a gente sabe hoje, com base nas melhores pesquisas existentes, é que em torno de 20% dessa aptidão pode ser que a pessoa traga dentro do seu DNA, dos valores e dos traços de personalidade. Mas 80% a gente aprende. A liderança é fundamentada em conceitos, técnicas, táticas e ferramentas. É algo que precisa ser aprendido.

- Qual é o maior dilema dos líderes no contexto atual das organizações? A liderança convive hoje com vários dilemas. É sobre como lidar com o desconforto de forma confortável, sobre trabalhar de forma humilde, mas mantendo uma confiança enorme.

- O bom líder é o que tem todas as respostas ou o que mostra os melhores caminhos? Uma das características mais fortes da liderança é apontar o caminho, mas não necessariamente dar todas as respostas. O líder diz para onde vai, ele obtém o máximo do seu grupo na montagem de cada peça do caminho. Ele trata pessoa a pessoa dentro do seu time, de acordo com as necessidades individuais. 

O líder não tem que ter todas as respostas, porque o caminho do que está sendo construído é sempre o caminho no escuro, não é pronto. Então, eu costumo falar assim: “Senhor líder, daqui há três anos, quando você deixar a sua área, se for deixar, como é que ela vai estar?” Se ele não souber essa resposta, ele não consegue indicar caminhos. Ele vira um batedor de metas e somente ser um batedor de metas tem sido pouco para liderar a emoção das pessoas.

- A confiança e colaboração são dois pilares essenciais da liderança. Como eles estão relacionados ao bom desempenho de uma equipe? Cada vez que a pessoa performa abaixo do esperado, é preciso dar o retorno sem machucá-la, para gerar confiança. E quando ela performa muito acima, trocar o ‘Parabéns’, que já caiu em desuso, pelo ‘Você me surpreendeu’, que é muito mais atual.

E a colaboração, tendo em vista que as empresas estão ficando cada vez mais flats em suas estruturas, as pessoas precisam aprender a transitar. Elas têm de ter mais autonomia para fechar um certo assunto aqui e outro ali, para perguntar ao líder “O que eu estou fazendo está bom para você? Eu posso ajustar para fazer melhor?”

- Existe boa liderança sem inteligência emocional por parte do líder? Atualmente, o líder é responsável por produzir resultados dentro da empresa, mas também por gerar senso de propriedade e por desenvolver orgulho de pertencimento no seu time. Sempre aparecem mais problemas do que os técnicos ou referente às metas. E aí, se o líder não tiver o equilíbrio emocional para que ele possa balancear essas coisas e obter sua melhor versão, ele pode se complicar. Inclusive com doenças. 

Então, o chamado equilíbrio emocional aparece trabalhando o autocontrole, mas também o relacionamento. Eu acredito que todos os exames médicos periódicos das empresas, que medem triglicérides, colesterol e outras coisas, estão ultrapassados. 

Isso é feito há 20 ou 25 anos. Nós precisamos passar os colaboradores de todos os níveis por novos mecanismos que mostram se eles estão, de fato, bem para os desafios e suas respectivas posições. E o equilíbrio emocional é o básico”.

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