Preliminarmente, o objeto desta coluna é uma breve reflexão acerca do papel dos vices em mandatos eletivos de cargos executivos, a saber: vice-prefeito, vice-governador e vice-presidente.
Engana-se quem pensa de sua inutilidade e até desnecessidade, comparando-os apenas a um belo objeto de um ambiente qualquer, estático e meramente decorativo. Pode até não contribuir muito, mas tem um potencial enorme de atrapalhar, conspirar e desagregar um governo.
Exercem um papel da maior relevância tanto durante o processo eleitoral como principalmente no pós eleição, no dia a dia do governo, caso a chapa logre êxito. Exemplos de um passado recente em destaque vices que pelo seu caráter, competência e espírito público, contribuíram com lealdade à respectiva administração e depois assumiram a titularidade do Executivo com êxitos em suas gestões. Na PBH, em destaque Célio de Castro, no governo de Minas Anastasia e Alberto Pinto Coelho e no governo federal Itamar Franco e José Alencar, ressaltando que este não sucedeu o titular.
Estamos em um momento intenso de conversas e articulações na maioria dos casos para definições daqueles que ocuparão o destacado posto de vice nas eleições deste ano, seja como vice-presidente ou vice-governador. Não há uma fórmula pronta a seguir, mas por suposto que as análises e decisões finais seguem algumas diretrizes, levando em conta que cada eleição tem sua singularidade e é diferente da outra, com variáveis políticas, econômicas e conjunturais distintas que devem ser levadas em conta. Uma análise adequada, racional e não emocional pode sim contribuir para a vitória ou derrota da chapa.
Pressuposto que deve ser atentado é que candidato e seu vice devem se completar, ou seja, um suprir prováveis vulnerabilidades do outro. Estas podem, como exemplo, ser no aspecto de gênero, no geográfico (um com mais potencial em regiões centrais, outro no interior), um com perfil mais técnico, outro com perfil mais político e agregador, um mais executivo, outro mais articulador (principalmente com o poder Legislativo e com entidades da sociedade civil). Erro absoluto é a chamada chapa “pão com pão”, formada por iguais, que é diferente da chapa “puro sangue”.
Nesta, os integrantes são do mesmo partido, mas se complementam conforme suas características e estilos. Um exitoso exemplo recente da política mineira: governador Aécio e vice Anastasia (2003-2010). Então pertencentes ao mesmo partido, mas com perfis diferentes e complementares, um mais político, outro mais técnico.
Já na chapa “pão com pão”, podem ser do mesmo ou de partido diferente, mas têm perfis e habilidades semelhantes, o que ocasiona soma zero na aliança. Numa eleição tranquila, não há problema. Mas em uma disputa mais acirrada, com certeza acende a luz amarela e é fator que pode contribuir para uma possível derrota.
Importante assinalar que assim como não há candidato perfeito, como dispus em um artigo recente, também não há um vice perfeito. Qualquer um está passível de críticas e exposição de suas fragilidades.
A grave crise que vivemos exigirá muito dos eleitos em outubro próximo. Aos titulares a incumbência de delegar nobres missões políticas e administrativas aos vices, e não isolá-los ou boicotá-los de decisões e indicações para nomeações estratégicas, o que é comumente percebido país afora.
Caberá sim aos vices um importante papel em seu labor ao lado do mandatário eleito no nosso complexo processo de recuperação econômica e social. E que sejam inspirados pela correção, sabedoria e humildade do Anastasia, pelo espírito agregador e conciliador do Alberto Pinto Coelho e pela lealdade e espírito público do atual vice-governador de Minas, Paulo Brant.