Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Todo o País no Divã e um Urgente Pacto pelo Brasil

Publicado em 13/01/2023 às 06:00.

Fatos graves pós fatos graves. Crises pós crises. Escândalos pós escândalos. A culpa não é apenas dos bolsonaristas, dos petistas, do STF, da mídia ou dos políticos corruptos.

De forma humilde, sincera e desarmados, façamos uma reflexão. Não é apenas dos citados acima, enfatizo. É de todos nós. Uns com mais e outros com menos responsabilidade. Mas eu, você, todos somos responsáveis pelo triste e preocupante momento que o país vive.

Somos desprovidos de um indispensável sentimento de pertencimento à pátria Brasil. Aspectos pessoais e meramente econômicos sobrepõem a questões coletivas desde nosso descobrimento.

Em nada adianta a constante mania de sempre terceirizar problemas, principalmente nas esferas política e econômica. A culpa é sempre do outro, seja dos adversários, da oposição, da mídia golpista. O desastroso e maléfico maniqueísmo de insistir na luta do “meu lado”, o do bem, contra o mau.

A insistência em mantermos na nossa bolha de pensamento, potencializada pelos perigosos algoritmos das redes sociais. A desastrosa intolerância pelo nosso estilo de querer impor nossas verdades como absolutas. De compartilhar fake news em defesa dos pertencentes da minha bolha ou para ataque do outro lado.

E por suposto, por estarmos em uma sociedade fortemente polarizada e radicalizada, fica evidente a chamada “doble moral”, ou seja, condena-se com veemência atos, falas ou crimes do outro lado político. Mas quando as mesmas atitudes são praticadas “pelos meus”, eis que um silêncio ensurdecedor se mostra presente ou um bombardeio de fake news compartilhadas sem o menor pudor.

Como exemplo do momento da “doble moral”, autores de pedidos à justiça para impedir que parlamentares que supostamente apoiaram os atos do último dia 08 não tomem posse no próximo dia 01 de fevereiro. E omitem em relação aqueles que são não apenas apoiadores, mas líderes de invasões de propriedades urbanas e rurais.

E em relação aqueles que aplaudem todo o contingente preso em Brasília, colocando no mesmo balaio os criminosos golpistas daqueles que não praticaram atos violentos? Como analisam os casos de destruição praticados por também supostos criminosos quando invadiram terras e destruíram plantações de laranja e pesquisas de 15 anos de biotecnologia? Vide https://veja.abril.com.br/brasil/mst-destroi-15-anos-de-pesquisa-em-biotecnologia/ e https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2013/06/mst-invade-fazenda-de-industria-de-suco-de-laranja-em-borebi-sp.html. E como se posicionarão com possíveis casos similares em um futuro próximo?

Pois é. Isso se chama “doble moral”.

Não há monopólio da verdade, da defesa da pátria, ou da ética ou da luta dos menos favorecidos por nenhum partido, grupo político ou nenhum dos poderes da república ou instituições, sejam públicas ou privadas. Formados por seres humanos, todos estão passíveis de erros e acertos, são integrados por pessoas com caráter e por criminosos.

Baixemos a guarda. Reconheçamos nossa responsabilidade por essa bagunça por que passa o país. Tentativa de golpe invadindo e destruindo a sede dos poderes da república ameaçam a democracia sim, assim como qualquer outro tipo de ataque e ameaça ao Estado Democrático de Direito, praticado por quem quer que seja.

Mas não apenas isso. Proteger corruptos e passar a imagem para a sociedade que roubar vale a pena nesse país também é uma ameaça à democracia de qualquer país.

Por fim, a paz almejada e a luta por um país mais justo e menos desigual passa por um Pacto pelo Brasil, que só terá chances de sucesso quando todos reconhecerem suas responsabilidades e culpas, a começar pelos três poderes da república, executivo, legislativo e judiciário. Todos os formadores de opiniões precisam fazer sua mea culpa. Incluem aí líderes políticos, partidos, a grande mídia, instituições públicas, privadas e toda a sociedade civil organizada.

E por suposto, por todos nós, os pagadores de impostos que sustentamos o estado brasileiro e os partidos políticos, que nutrimos a expectativa de políticas públicas eficientes, sem corrupção, e sermos reconhecidos e respeitados como cidadãos, na plenitude de nossos direitos, deveres e obrigações.

Ao fim e ao cabo, queremos uma democracia pujante, qualidade de vida, respeito à cidadania e uma vida plena e harmônica em coletividade.

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