Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Trump: de forte cabo eleitoral a ‘politicus non gratus’ nas eleições no Brasil em 2026

Publicado em 14/02/2025 às 06:00.

A vitória de Trump sobre a democrata Kamala foi deveras comemorada por setores da direita brasileira como potencializador no mover do pêndulo do poder no país da esquerda para a direita nas eleições presidenciais de 2026.

Em relação às pautas de costumes e às ações de Trump contra a agenda woke, são celebradas em total sintonia com a direita brasileira, como exemplo uma ação executiva assinada no último dia 05 que proíbe mulheres transgênero de competir em esportes femininos. E também instrui o Departamento de Segurança Interna a revisar pedidos de visto de mulheres trans que entram nos EUA para competir em esportes femininos, garantindo que o gênero declarado corresponda ao sexo biológico.

Mas algumas decisões e falas de Trump acenderam o alerta da mesma direita pelos reflexos negativos e em contra a interesses nacionais, tanto no aspecto econômico como no geopolítico mundial, colocando na mesa cálculos do custo político da defesa absoluta e irrefutável do mandatário norte americano.

Como defender ou concordar das falas de anexar a Groenlândia e o Canadá, retomar o Canal do Panamá e apropriar-se da faixa de Gaza e construir lá um balneário com resorts de luxo? E da saída da Organização Mundial da Saúde e do Acordo de Paris (tratado internacional que visa combater as alterações climáticas)?

No aspecto econômico, as recém medidas econômicas e protecionistas podem causar um brutal desarranjo internacional, com inflação e desmonte das cadeias globais. Medidas estas que assolam todos, aliados ou não, inclusive na América Latina.

O slogan de campanha de Trump “Make America Great Again”, estampado em camisas, cartazes e bonés, talvez tenha sido compreendido de forma equivocada. Ao citar América, alguns mais animados pensavam que incluía a América Latina ou até de forma mais restrita a América do Sul. Absoluto engano e devaneio. Tratava-se exclusivamente dos Estados Unidos da América. Até porque Trump disse que não precisa do Brasil e da América Latina.

Vide o recém decreto do presidente dos EUA, Donald Trump, que taxa todas importações de aço e alumínio ao país em 25%, sem isenções, o que afeta sobremaneira o Brasil. Em 2024, o Brasil foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, em volume, segundo dados do Departamento de Comércio americano, atrás apenas do Canadá. Em 2023, os EUA compraram 18% de todas as exportações brasileiras de ferro fundido, ferro ou aço, segundo o governo brasileiro. 

Assim sendo, em vigor a nova versão do imperialismo – que andava fora de moda- do século XXI dando as caras, em que a principal potência mundial mostra as garras e bate a mão na mesa impondo suas vontades e sobrepondo em absoluto seus interesses em detrimento de outros.

A continuar Trump na mesma toada, serão raros - ou até inexistentes- aqueles candidatos em 2026 aqui no Brasil que o usarão como fonte inspiradora e exemplo da direita a ser seguido. Por suposto, possíveis candidatos do campo da direita e seus marqueteiros já reavaliam e redirecionam a rota e estratégias de agora até a data das eleições, 04 de outubro do próximo ano. Algo do tipo, menos ou nada de Trump.

Em relação à eleição para Presidente da República, não é difícil de afirmar que a tônica principal será a economia do país, com o foco na inflação, no preço dos alimentos, juros altos. E cada candidato com sua narrativa buscará conquistar o eleitorado que tem a melhor proposta para salvar o país.

E Trump, que anteriormente poderia ser um trunfo da direita, doravante será um "politicus non gratus" (político não bem-vindo), e pela esquerda, seguramente será usado como o responsável pela crise econômica do país.

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