Doutor em Direito pela UFMG e Analista Político

Uma educação medíocre e um país despreparado para o futuro do trabalho

Publicado em 01/11/2024 às 06:00.

Em um mundo dinâmico e complexo, com uma economia digitalizada e as ferramentas de inteligência artificial cada vez mais indispensáveis, não é difícil constatar que o Brasil não está preparado para a economia e trabalho do futuro.

E se não tivermos mudanças radicais em várias áreas, continuaremos sendo um país absurdamente injusto e um dos mais desiguais do planeta. De grande relevância um relatório recém concluído pelo Movimento Brasil Competitivo, organização que apoia transformações em áreas consideradas estratégicas para o avanço econômico, como governança e gestão, transformação digital e redução do chamado custo Brasil.

O documento contou com a participação de representantes do empresariado, da indústria, do Congresso e do governo e será encaminhado aos governos e instituições, com recomendações para que o Brasil se adapte a uma economia digitalizada.

Conforme dispôs sua diretora executiva Tatiana Ribeiro em entrevista ao Estadão, “educação profissional é uma das soluções para melhorar cenário socioeconômico do País. Já há uma necessidade urgente de mão de obra e o caminho mais rápido é o ensino profissional e tecnológico”.

No Brasil, só cerca de 10% dos alunos do ensino médio estão na modalidade profissional e tecnológica, quando a taxa é de 68% na Finlândia e de 49% na Alemanha.

Segundo cálculos do MBC, o despreparo dos trabalhadores no Brasil já representa custo adicional de cerca de R$ 335 bilhões ao ano para o setor produtivo. “A competitividade de um país e sua relevância no cenário econômico global dependem do avanço tecnológico e de planejamento que coloque a economia digital no centro dos esforços de desenvolvimento”, diz o documento.

O relatório recomenda ainda mais duas medidas na educação para que o País esteja preparado para as transformações tecnológicas do novo mercado de trabalho: letramento digital e melhor formação dos professores.

Segundo a executiva, “a gente precisa trabalhar para criar as novas profissões, formar esses novos profissionais e também requalificar a mão de obra que está sendo realocada. Sabe-se que 40% dos trabalhadores precisarão aprimorar suas habilidades para atender às novas demandas e que 23% dos postos de trabalho vão passar por modificações, segundo dados do Fórum Econômico Mundial”. 

Na entrevista, ao ser questionada sobre o papel da educação nesse processo, dispôs que ela é “o elemento mais importante, uma educação em diferentes perspectivas. A gente tem, por exemplo, necessidade de ampliar as habilidades digitais das crianças. E um segundo desafio: pensar e olhar para o futuro, entender quais são essas novas profissões e como se cria uma nova oferta de cursos, que seja alinhada a elas. Quando a gente olha para profissões que estão mais ligadas à tecnologia, talvez cursos de graduação façam menos sentido do que os cursos técnicos”.

E adiante frisou que “Não estamos falando de algo que se possa resolver no curto prazo. É um processo que exige engajamento e desenvolvimento contínuo.

E concluiu ao ser questionada de outras profissões que crê são importantes para a economia do futuro, citou as da economia do cuidado. “Em especial no pós pandemia, a gente está reforçando cada vez mais as características humanas, então acredito que profissões como médico, enfermeiro, muito ligadas ao cuidar das pessoas. Além disso, toda essa agenda da economia verde, então tudo que está muito ligado a biotecnologia e questões relacionadas às energias renováveis. Para isso, a gente também defende novos modelos de trabalho que sejam mais flexíveis, obviamente garantindo a proteção social adequada, mas que permitam com que essa nova economia também se desenvolva”.

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