Com certeza você já falou ou ouviu a expressão "Agora é tarde, Inês é morta", querendo expressar que é tarde demais para tomar alguma atitude a respeito de algo. Mas você sabe a origem desta expressão?
A língua portuguesa é fantástica, com suas expressões próprias que remontam a personagens ou fatos da nossa história, que são absorvidas pela sociedade e transmitidas de geração para geração.
A quase totalidade sabemos o significado de determinada expressão, mas poucos temos noção ou curiosidade de pesquisar sua origem. Especificamente esta objeto deste artigo, explícito está apenas o nome da “homenageada”, Inês, e que a mesma faleceu de forma trágica, lamentavelmente, diga-se de passagem.
Inês de Castro viveu entre 1323 e 1355. Era dama de companhia de Constança Manuel, esposa de Pedro I de Portugal, herdeiro da coroa portuguesa, ao qual se tornou amante e vivia um tórrido romance.
Ao estilo de uma tragédia shakespeariana, logo o romance se espalhou pela corte, gerando tremendo desconforto. Assim sendo, o pai de Pedro I, o rei D. Afonso IV, ordenou o exílio de Inês de Castro no castelo de Albuquerque, na fronteira castelhana.
Não obstante a distância, a história registra que a paixão não arrefeceu, com trocas de correspondências apaixonadas entre os amantes. Com o falecimento de sua esposa Constança, Pedro I aproveitou o ensejo e, contrariando seu pai, deu fim ao exilio e trouxe Inês para viverem juntos.
Pouco tempo depois, aproveitando que Pedro tinha saído pra caçar, seu pai mandou matar Inês, causando revolta e tristeza em seu filho. Posteriormente, com a morte de D. Afonso IV, D. Pedro I é declarado rei de Portugal. Então, dotado de autoridade real, afirmou que tinha casado secretamente com Inês de Castro, com a qual teve três filhos.
O passo seguinte de D. Pedro I foi a concessão à falecida Inês de Castro o título póstumo de rainha de Portugal. E, de forma tragicômica, colocou o corpo de Inês no trono, pôs uma coroa em sua cabeça e obrigou toda a corte a beijar a mão do cadáver. Mas, por suposto, tornou-se impossível o exercício do reinado por Pedro I ao lado de sua amada rainha, pois "Inês é morta”.
Posto isso, a expressão passou a ser usada como alusão a uma tragédia, a uma coisa triste. Daí o ditado que agora não adianta mais nada, pois “Inês é morta”.
A triste história de Inês de Castro ficou mais conhecida e ganhou destaque no clássico da língua portuguesa Os Lusíadas, de Luís de Camões. A saber: "...Aconteceu da mísera e mesquinha, que depois de ser morta foi rainha...".