Os pensamentos dirigidos em conceitos binários são facilmente e perigosamente petrificantes. O chamado pensamento binário consiste em uma visão de mundo simplista, que considera apenas os extremos e não enxerga a complexidade real das coisas, como se a vida fosse uma equação exata (o que sabemos que está muito longe de ser verdade). Para quem pensa de forma binária, apenas existe o 8 ou o 80, sendo completamente ignoradas as infinitas possibilidades de nuances que existem entre uma coisa e outra.
A expressão, originalmente, refere-se a um dualismo religioso cuja doutrina, em termos simples, consiste em afirmar a existência de um conflito entre o bem e o mal, mas que passou a significar qualquer visão de mundo que o divida em poderes opostos e incompatíveis.
Você é daqueles que acham que criticar a polícia é defender bandido? Para algumas pessoas, a vida é simples: é céu ou inferno. Não existe outra coisa entre um polo e outro, nenhuma área cinzenta, nenhuma dúvida, nada. Para elas, o mundo não é complexo.
Nas discussões sobre política, o maior exemplo é a batalha de décadas entre capitalismo e comunismo. É como se estas fossem as únicas formas econômicas aplicáveis possíveis em qualquer sociedade. Características foram definidas para quem está de um lado ou está de outro. Se a pessoa é contra a propriedade privada, ela só pode ser comunista. Se a pessoa é a favor do estado mínimo, ela só pode ser capitalista. Não há espaço para proposições de outros modelos, pois o tempo todo um lado quer desqualificar o outro. Não há espaço para críticas internas, pois quem faz isso é silenciado sob a ameaça de ser um traidor.
E mesmo quem tenta não se estigmatizar se colocando de um lado ou de outro, normalmente é acusado por seus detratores de estar do outro lado ou de ser covarde, por não escolher um lado, como se o “não lado” não fosse por si um lado igualmente válido.
A razão e a verdade são, muitas vezes, esbofeteadas e jogadas para escanteio, devido às questões ideológicas. O maniqueísmo toma conta das pessoas de forma que importa mais cometer erros em nome da ideologia do que acertar em nome da razão. Isso se reflete quando um político que se identifica com a direita não quer utilizar uma solução que sabe que vai funcionar porque essa solução é vista como atitude de esquerda. E vice-versa.
Fora o fato de enxergarmos enquadramentos políticos apenas entre direita e esquerda. A intolerância tem levado a uma divisão sectária da sociedade, ao discurso de ódio ao diferente, indo muito além da mencionada divisão nós/eles. Prefere a eliminação do adversário a qualquer custo, sem medir consequências dos seus atos. Atua sob a égide da emoção. E o ódio é uma emoção que sucumbe à razão. Temos que mudar este cenário com urgência. Reflita!