Sou membro da Comissão de Defesa do Direito das Pessoas com Deficiência da OAB/MG e, por isso, tenho muito contato com essa parcela da população. Tenho muita alegria em aprender sempre com suas eventuais dificuldades do dia a dia e com a superação de todas as barreiras físicas e psicológicas que a situação física impõe. Mas o que é ser amigo de um cadeirante?
Ser amigo de um cadeirante é compreender, de fato, que o mundo possui muito mais desafios do que imaginamos. É educar o cérebro para uma mente muito mais inclusiva. É entender que se o seu amigo cadeirante não consegue frequentar determinado local, ali não é bom o suficiente, mesmo quando você está falando da sua própria casa. É se descabelar quando escuta a palavra “escada”, porque só quem tem um amigo cadeirante de verdade entende o real significado dessa palavra. É saber que espasmos não representam um ataque cardíaco. É odiar passeios desnivelados, obstáculos e tapetes.
Ser amigo de um cadeirante é aprender o porquê de você não poder estacionar nas vagas reservadas para pessoas com deficiência nem por um minuto. Ah, é inclusive aprender por que o termo correto é: pessoa com deficiência. É aperfeiçoar todos os dias a arte da paciência: entenda, ele levará o triplo do tempo para entrar e sair do carro, e nesse momento você aprenderá o prazer de poder ajudá-lo.
Ser amigo de um cadeirante é aprender que você não precisa falar com voz de bebê e nem cheia de pudores, pisando em ovos, muito menos que tem que ficar rindo o tempo todo para ele. Você pode ser quem você é. Eles não quebram pelo simples fato de vocês terem uma relação normal.
Ser amigo de um cadeirante é pisotear todos os dias sobre seus próprios preconceitos. É tornar seu amigo um “objeto” de estudo, porque você quer saber dele todas as dúvidas que todo mundo tem.
É saber de todos os eventos da cidade que abordem sobre a dignidade da pessoa com deficiência e se tornar um “consultor” sobre o assunto, porque todo mundo quer tirar dúvidas com você. É comprar briga. É trabalhar o tempo inteiro com logísticas. Ser amigo de cadeirante é andar com seu amigo por aí e por um minuto analisar o mundo ao seu redor e se perguntar: “por que estão todos encarando?”, já que na maior parte do tempo até mesmo você esquece a deficiência dele.
Ser amigo de cadeirante é percorrer a linha tênue da autonomia e da dependência. É pedir constantemente: “me conta de novo a sua história?”, pelo simples fato de ser a história mais emocionante que você conhece. É se emocionar, com a alma, em todas as conquistas dele. Ser amiga de um cadeirante é, todos os dias, ter um choque de realidade ao reclamar da sua vida e se lembrar das inúmeras dificuldades que ele suporta. É ter um exemplo. É agradecer a Deus todos os dias, pelos mais variados motivos, pela vida dele.
Aproveito o assunto para convidá-lo a conhecer nossas ações na Câmara Municipal de BH em prol do direito das pessoas com deficiência em: www.irlanmelo.com.br
*Escrito em conjunto com Fernando Bezerra