Irlan MeloAdvogado, teólogo, professor universitário e vereador de BH eleito para seu segundo mandato como o 8° vereador mais votado de BH

Um golpe de faz de conta

Publicado em 13/01/2025 às 06:00.


“Faz de conta” é uma expressão popular brasileira que significa fingir, imaginar ou criar uma situação fictícia. Sempre vemos em brincadeiras e jogos infantis onde as crianças criam histórias, personagens e cenários imaginários. Para as crianças, tal prática ajuda em seu desenvolvimento cognitivo, na sua criatividade, imaginação e habilidades sociais. 

Mas não é que essa prática alcançou a política?

No dia 8 de janeiro de 2023, um bando de desordeiros, alguns com má-fé e outros com sentimentos patrióticos verdadeiros, invadiram prédios dos três poderes em Brasília. Vândalos que protestavam com relação às eleições de 2022, uma vez que não concordavam com o resultado. Muitos pediam a intervenção militar (o que não é crime num país livre) e outros nem sabiam ao certo o que estavam fazendo ali.

Os acontecimentos foram de extrema gravidade, mas jamais configuram tentativa de golpe de Estado. Pensem comigo: manifestantes desarmados, sem coordenação, sem o apoio de militares, num domingo. Vândalos que não tinham nenhuma intenção de depor o governo eleito, mas apenas de protestar. Outros que nem participaram de nada (como vendedores ambulantes e mendigos) mas que foram colocados no mesmo “balaio de gato”.

Milhares encarcerados, sem individualização de conduta, sem um juiz natural para julgá-los, sem direito à ampla defesa e ao duplo grau de jurisdição, sem poder se comunicar com quem quer que seja e principalmente com um advogado. Um verdadeiro absurdo humanitário e jurídico. Denúncias genéricas e punições astronômicas, realizadas em plenário virtual, como nunca antes se viu na recente história da nossa jovem democracia.            

Estar no lugar errado, na hora errada e com as pessoas erradas se tornou um crime hediondo, num justiçamento que envergonha os juristas sérios da nossa nação. O faz de conta se repetiu como cantiga no 8 de janeiro de 2025, com o pretexto de “salvar a democracia” agem como tiranos, déspotas e ditadores. Rasgam o ordenamento jurídico pátrio e vilipendiam a memória daqueles que um dia agiram para que o Brasil saísse do regime repressivo, que ignora a lei e o direito, numa sede de vingança contra um espectro político determinado, a direita.

A pergunta é: até quando?

Há um provérbio português que vaticina: “NÃO HÁ BEM QUE SEMPRE DURE, NEM MAL QUE NUNCA SE ACABE”, ou seja, a vida é cíclica e devemos manter o otimismo que dias melhores virão.

Eu acredito que um dia ainda teremos um país livre, que respeita as opiniões divergentes, onde a justiça age de acordo com a lei e não como uma parte do jogo político. Um lugar onde pessoas que pensam diferente não se odeiem, mas que buscam convergências em prol do bem comum. Eu creio que ainda viverei esse tempo. Cada dia da minha vida, trabalho para abreviar esse caminho, com fé e esperança, sem deixar de orar todos os dias para “aqueles que têm fome e sede de justiça”. 

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