Recentemente, ao aplicar uma prova, dei um “sustinho” nos meus alunos. Disse que estava havendo animosidades entre os colegas por causa de times de futebol.
“Tem que ser no dia da prova mesmo! Mas eu vou ter que falar”. Assim eu comecei o discurso de um professor chato e opressor, o que, com toda certeza, eu nunca fui. “Eu sei que maioria de vocês respeitam as predileções futebolísticas dos colegas. Mas, por causa de uns e outros, está proibido o uso de camisas de times de futebol nas minhas aulas”.
Surgiu um clima de suspense entre os alunos. Instantaneamente começaram os murmúrios de indignação por causa de uma medida severa e desnecessária. Afinal, nenhum deles nunca ouviu falar de ofensas entre si por causa de futebol.
E digo mais – prossegui. Podem reclamar na Coordenação. Podem me chamar de autoritário, mas é assim que vai ser. E eu darei o exemplo. Então, sem camisa de time de futebol nas minhas aulas! Vocês estão avisados!!
Ao dizer essas palavras, eu estava propositadamente posicionado no meio da sala e de costas para os alunos. Isso foi necessário porque, a essa altura, eu já estava rindo. E, se eles assim me vissem, a “pegadinha” ficaria sem graça.
Então, dirigindo-me ao quadro, tirei minha blusa, debaixo da qual estava a camisa do meu querido Esporte Clube Ribeiro Junqueira, o Dragão de Leopoldina/MG. O riso de alívio tomou conta da turma.
Pedi a um aluno para gravar esse momento inesquecível. O vídeo está disponível no YouTube. Clique aqui https://youtu.be/eVpD1bfSR80 e veja.
Foi assim que os alunos experimentaram um alívio que os deixou mais à vontade para fazer a prova. E acreditem: as notas forma ótimas.
O estudante, sobretudo quem se prepara para um concurso, precisa desses momentos de distensão. Nosso cérebro precisa disso para processar o que está sendo estudado.
A figura do aluno carrancudo, com cara de poucos amigos, não combina com um concurseiro de sucesso. Isso também vale para nós, os professores.
Momentos como o mostrado no vídeo acima nos fazem descer de qualquer pedestal na relação com os alunos. E eles passam a compreender que todos nós somos feitos e emoções. Isso incluiu as paixões futebolísticas.
Aliás, a minha paixão pelo Dragão de Leopoldina não é um modo de me manter neutro, como sugerem alguns alunos. É um modo de nunca me esquecer da mais importante lição que aprendi na minha vida, e que me levou a 16 aprovações em concursos.
Quando eu tinha uns 9 anos, assistia a amistosos do Ribeiro Junqueira contra os grandes craques do futebol carioca. Para esses, o evento era apenas uma excursão. Mas, para os garotos de Leopoldina, era a grande chance de mostrar talentos para os técnicos e olheiros que prestigiavam essas partidas.
Foi assim que vi, muitas vezes, o Dragão derrotar as grandes estrelas do futebol. E essa é a mais importante lição que me acompanha até hoje: a vitória, no esporte ou nos estudos, nem sempre o do melhor. Ela é do mais esforçado.
Desejo a todos bons estudos.