Umas das primeiras missões que coordenei consistiu em designar policiais para uma investigação confidencial num município interiorano. No dia seguinte, o sargento que comandava o policiamento naquela cidade me ligou:
- Eu posso identificá-los e pedir que me mostrem a carteira?
- Claro. Peça-lhes a carteira funcional.
Umas duas horas após, o sargento voltou a me ligar: “Eu não tinha dúvida de que eram policiais mesmo. Mas eu pedi para identificá-los porque eu nunca tinha visto a carteira da Polícia Federal. Era a minha chance de saber como ela é”.
A carteira de um funcionário público desperta fascínio mesmo. Mas o respeito é conquistado pela postura condizente com o cargo exercido.
Para ilustrar esse tema, veja aqui um trecho do filme “Os Intocáveis”. E acompanhe os comentários nos minutos e segundos que destacarei:
Em 00min:50seg:
“I am proud of you”. Esse bilhete da esposa, em que ela diz “estou orgulhosa de você”, perdeu o valor para o heroico Eliot Ness, o policial que coordenou as investigações contra Al Capone. Afinal, ele teve um dia de fracasso.
Nesse contexto, um policial fardado caminha pela ponte e presencia o momento em que Eliot Ness lança ao rio o bilhete da esposa.
Em 01min:00seg:
“Quer jogar o lixo fora? Por que não joga na lata de lixo?
Do ponto de vista de Eliot, com seus fracassos momentâneos, jogar fora um papelzinho não tem nenhuma importância. E vem a resposta dele, que poderia configurar o crime de desacato: “Não tem coisa mais importante para fazer, não?”
Esse é o típico evento que poderia gerar desinteligência e conflito entre os dois policiais. Mas eis a resposta do policial: “Tenho. Mas no momento não estou fazendo nada”.
Em 01min19seg:
É nesse momento que surge o fascínio pela carteira. Em vez de se apresentar amistosa e verbalmente, Eliot Ness enfia a mão no paletó para tirar sua carteira funcional. O policial toca o peito do oponente com o cassetete de madeira e ouve-se o tilintar de metal.
Então, concluindo que se trata de uma arma, e já supondo que o oponente é um colega, questiona: “Ok, parceiro. Para que a pressa? Por que está armado?”
Se Eliot estivesse diante de um colega menos experiente, poderia ter perdido a vida. Afinal, seria razoável supor o saque de uma arma. E tudo por causa da ânsia de mostrar a carteira. Mas ele teve oportunidade de dizer: “Eu sou agente do Tesouro”.
Diante dessa resposta, o policial fardado comenta, antes de seguir seu caminho: “Está bem. Mas não se esqueça do que conversamos”. Eliot fica intrigado e questiona: “Você acabou de virar as costas para um homem armado”.
- Você é agente do Tesouro.
- Como é que você sabe? Foi eu quem lhe disse que era.
- E quem diria isso, se não fosse verdade?
Essa sábia resposta desarmou o grande Eliot Ness. De repente, ele se deu conta de que a postura pode valer mais que a carteira.
Então, você que está na luta para passar num concurso, pense nisso. A carteira, em muitos casos, serve para nos identificarmos mesmo. Mas a postura, condizente com o cargo exercido, costuma valer muito mais.
Desejo a todos bons estudos.
* José Roberto Lima é advogado, delegado federal aposentado, professor das Faculdades Promove e mestre em Educação. Autor dos livros “Como Passei em 16 Concursos” e “Pedagogia do Advogado”. Escreve neste espaço às quartas-feiras.