Parece que eu estava adivinhando: nas primeiras linhas de “Como Passei em 15 Concursos” cito Sigmund Freud para dizer que nossos comportamentos são determinados por processos inconscientes. E, para quem pergunta como isso é possível, esclareço que a Ciência está repleta de afirmativas aparentemente absurdas.
Afinal, alguém já viu a Terra solta no espaço, girando em torno do Sol? Mas proponho o desafio de estudar Astronomia durante uns três anos para compreender o que é aparentemente absurdo. E concluo: “Mas, se o programa do seu concurso não inclui Astronomia, deixe a Terra girar em paz”.
E eis que, em pleno Século XXI, milhões de pessoas mundo afora, muitos oriundos de condições sociais privilegiadas, mas fugidos da escola, passam a criticar Isaac Newton, Albert Einstein e outros cientistas, como se os anos de estudos e pesquisas deles fossem inúteis; e como se soubessem mais do que eles.
Esse desprezo e desdém pelos estudos coloca em risco os últimos dois milênios de evolução científica. Tudo promovido por pessoas que se julgam sábias e inteligentes. E, quando misturam o tema com religiosidade, se acham salvadores da humanidade.
É por isso que se verifica um fenômeno interessante na Linguística: a expressão “terraplanismo” surge como uma forma de excluir aquilo que destoa e que não é desejado em um grupo. Já se ouve, por exemplo: “Ele é o terraplanismo na nossa equipe”. Tomara que o Aurélio defina esse verbete nas próximas edições.
Estou com pena das crianças e das futuras gerações. As pessoas são livres para manifestar o pensamento. Mas, se os administradores das redes sociais não refrearem essas imbecilidades, poderemos voltar a uma era de ignorância e intolerância.
Eles - os terraplanistas - já defendem a inclusão de suas birutices no ensino fundamental. No atual Governo há pessoas de alto escalão que dizem acreditar realmente na forma plana da Terra. Se nada fizermos haverá em breve questões de concursos, cuja resposta certa exigirá a mesma crença.
Para evitar esse futuro sombrio, decidi dar a minha modesta colaboração: meu próximo livro será de tema infantil. O personagem central, um professor, adorado pelas crianças, dedica-se a tirar os conspiracionismos das cabeças dos seus pequenos alunos.
Assim, espero despertar nos jovens o gosto pelos estudos. E, daqui a alguns anos, encontrá-los no exercício de cargos públicos de prestígio, contribuindo para um mundo melhor.
A todos e todas, de modo especial às crianças, desejo bons estudos.