José Roberto LimaAdvogado, professor e palestrante, com a experiência de quem foi aprovado em 15 concursos públicos.

O juiz de bom coração

Publicado em 15/09/2017 às 16:57.Atualizado em 15/11/2021 às 10:35.

É rotineiro receber manifestações de leitores que se identificam com as histórias de superação que conto nesta coluna. Recentemente foi a vez de um juiz de Direito, com quem me encontrei amistosamente. Para minha surpresa, ele disse que acompanha semanalmente meus artigos.

Ele é meu colega dos tempos de faculdade. Era um dos poucos que tinha automóvel desde os primeiros períodos na UFMG. Afinal, ao concluir o ensino médio, ele passou num concurso disputadíssimo, de modo que seu padrão de vida deu um salto significativo.

Certa vez eu o vi chorando indignado. É que, valendo-se da sincera vontade de ajudar o próximo, contratou os serviços de um garoto para lavar seu carro. Na hora do intervalo das aulas, a mãe apareceu e, num ataque de soberba, anunciou escandalosamente que seu filho não precisava de esmolas.

Ao lembrar esse evento, ele disse que recebeu em audiência o tal garoto que, agora adulto, está envolvido na prática de estelionato. O réu, inicialmente, não reconheceu o então estudante de Direito. 

Na condição de juiz, e por razões de foro íntimo, ele se deu por suspeito para julgar a causa. Depois que o processo foi redistribuído, o antigo estudante lembrou o episódio.

Desta vez, foi o réu que caiu em prantos. Disse estar arrependido e pediu conselhos para dar uma guinada na vida do ponto de vista moral, afetivo, econômico etc. Então, o colega e juiz, cuja generosidade posso atestar, comentou:

- Sua mãe tem razão. Você não precisa de esmolas. Mas um dia ela compreenderá que eu jamais quis te dar uma esmola. 

- Eu sei disso.

- Pois é. Seu caminho para voltar à retidão não será fácil. As pessoas duvidarão da sua palavra. Mas é possível superar tudo isso.

- E por onde eu começo?

- Comece lavando carros. Se lhe faltar oportunidade de um trabalho formal, comece lavando carros. E volte a estudar.
Então, leitor ou leitora, se não lhe falta a confiança das pessoas, também não lhe faltarão boas oportunidades. Aproveite-as. E bons estudos.

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