José Roberto LimaAdvogado, professor e palestrante, com a experiência de quem foi aprovado em 15 concursos públicos.

O que é meritocracia?

Publicado em 23/10/2024 às 06:00.

A etimologia da palavra “meritocracia” sugere o predomínio dos que merecem ser escolhidos. Mas, por motivos ideológicos, a palavra foi apropriada pelos que, por muito pouco ou quase nada, se acham melhores que todos.

É assim que um herdeiro, que nunca trabalhou e nem gosta de estudar, evoca a meritocracia para justificar seu patrimônio. Nada contra a herança. Mas, quando ela não vem acompanhada de trabalho, estudo e poupança, vale o ditado: “Avô rico, pai nobre, neto pobre”.

Existem exemplos mais sutis, presentes no cotidiano e em todas as camadas sociais. É assim que as mínimas realizações ou habilidades podem levar alguém a se sentir melhor que seus semelhantes. O Evangelho de Mateus, no capítulo 20, nos dá uma lição sobre isso. Vejamos um resumo em linguagem coloquial:

O dono de uma fazenda saiu de manhã cedo para contratar trabalhadores. Ele combinou que lhes pagaria uma moeda de prata. Por volta das nove horas, saiu novamente e contratou mais trabalhadores com a promessa de pagar o valor justo. E depois fez a mesma coisa por volta de meio-dia e às cinco da tarde.

No fim do dia ele fez o pagamento, começando pelos que foram contratados por último, os quais receberam uma moeda de prata. Os que trabalharam desde cedo pensaram que iriam receber uma quantia maior. Mas também receberam uma moeda de prata.

Ao reclamarem com o dono da fazenda, eles não se conformaram por não serem tratados como melhores: “Estes homens que foram contratados por último trabalharam somente uma hora. Contudo o senhor pagou a eles o mesmo que a nós?”.

Bem... aparentemente parece que o fazendeiro foi injusto. Mas, se fizermos uma comparação entre o sentido ideologizado de “meritocracia” e “necessidade”, a Justiça aflorará. Uma moeda de prata equivalia a um denário, valor correspondente às necessidades diárias de um trabalhador e sua família. Era o salário-mínimo daquela época.

Então, aos que trabalharam mais, o pagamento foi de acordo com o combinado. Quanto aos outros, se o pagamento fosse inferior a uma moeda de prata, passariam necessidades. 

Os que reclamaram não estavam reivindicando a igualdade. Ao contrário, estavam protestando contra ela. No fundo, reivindicavam a desigualdade por se acharem melhores.

Nada contra o mérito verdadeiro, isto é, posição social melhor para quem se esforça mais. Essa é a lógica da vida, essa é a lógica dos concursos. 

Desejo a todos bons estudos. Porque, esse sim: é o caminho do justo mérito.

*José Roberto Lima é advogado, delegado federal aposentado, professor das Faculdades Promove e mestre em Educação. Autor dos livros “Como passei em 16 concursos” e “Pedagogia do advogado”. Escreve neste espaço às quartas-feiras. 

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