O tema da inveja, abordado em inúmeros artigos desta coluna, pode ser revelador em perguntas semelhantes à deste título: "Seu vizinho passou nesse concurso há muito tempo. E você? Por que você demorou a passar"?
Quem faz essas comparações, roendo-se de inveja, não se dá conta, por exemplo, que o vizinho concluiu o ensino médio primeiro, o que pode ter várias causas e vários fatores. No caso do ensino universitário, pessoas que fazem essas comparações talvez nem saibam das hipóteses de cursos tecnológicos em dois anos, ao passo que uma graduação dura, em média, cinco anos.
Nem tente explicar a esses tomadores de conta da vida alheia que, para muitos concursos, exige-se formação superior em qualquer área, independente da duração do curso. Aliás, já existem cursos superiores, que podem ser concluídos em menos de um ano.
Além disso, é claro que a trajetória de cada um pode resultar em atrasos, ou mesmo interrupções dos estudos. Eu mesmo, por diversas circunstâncias da vida, só iniciei meu curso de Direito na UFMG com 27 anos de idade.
E estou longe de ser um recordista de idade nos estudos. Eu tive alunos que se formaram com 70 anos. Martinho da Vila iniciou um curso superior aos 80 anos.
Faça como o legendário Garrincha, o melhor ponta-direita da Seleção Canarinho (ele é do tempo em que ainda havia jogadores de futebol nas funções de ponta-direita e ponta-esquerda). Certa vez, o time do Brasil passava apertado para ganhar um jogo. Ele driblou metade dos adversários e ficou dentro da área, somente ele e o goleiro. Passaram uns 30 segundos que pareciam uma eternidade.
Quando finalmente o goleiro correu na direção do Garrincha, ele chutou a bola e marcou o gol. No vestiário, o técnico perguntou desesperado: “Garrincha, nós estamos num aperto danado. E você fica fazendo hora. Você nos mata do coração. Por que você demorou a chutar para fazer o gol”?
E o craque das pernas tortas, com a sua ingenuidade peculiar, respondeu: "Ué, eu demorei a chutar porque o goleiro demorou a abrir as pernas".
A todos, sem demora, desejo bons estudos.
*José Roberto Lima é advogado, delegado federal aposentado, professor das Faculdades Promove e mestre em Educação. Autor dos livros “Como passei em 16 concursos” e “Pedagogia do advogado”. Escreve neste espaço às quartas-feiras.