Claudio OlivaClaudio Oliva é jornalista especializado em turismo e hotelaria, pós-graduado em Turismo pela Universidade de Barcelona, presidiu a Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo. Editor da Qual Viagem, colaborador em diversos portais de turismo, é também diretor Executivo da Assimptur Assessoria de Imprensa.

Aeroporto do Galeão às moscas é retrato da falta de segurança no Rio de Janeiro

Cláudio Lacerda Oliva*
turismologoali@hojeemdia.com.br
Publicado em 01/06/2023 às 07:29.Atualizado em 05/06/2023 às 14:36.
Exigência do visto derruba a decisão do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que em março de 2019, tinha dispensado a obrigatoriedade  (Yousef Alfuhigi via Unsplash)
Exigência do visto derruba a decisão do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, que em março de 2019, tinha dispensado a obrigatoriedade (Yousef Alfuhigi via Unsplash)

Uma das cidades mais lindas do mundo, a cidade do Rio de Janeiro já se orgulhou de ser reconhecida como “a porta de entrada do Brasil”, principalmente por ser a entrada de turistas estrangeiros da Europa, Ásia, América Central e até Ásia. Essa retórica foi uma verdade absoluta até uns 25 anos atrás, tempos em que o Galeão, principal aeroporto do Estado do Rio de Janeiro, era o principal aeroporto brasileiro.

Desde então, a importância do aeroporto foi sucumbindo e,  atualmente, ele não está nem entre os 'Top 10' aeroportos do país. Opera somente com 16% da capacidade instalada. Falta uma política real de cuidados principalmente no quesito segurança e logística. O que deixa a todos nós indignados é a falta de uma política pública em relação à importância e aos  investimentos, principalmente em segurança pública.

A perda de voos do Galeão se deu, principalmente, pela fuga de conexões nacionais, fator fundamental para alimentar as companhias aéreas internacionais: a maioria prefere voar diretamente para Guarulhos, em São Paulo, pois lá é que está a maior e mais completa malha de distribuição de voos do Brasil.

Houve, também, crescimento fortíssimo no aeroporto de Viracopos, com as fortes operações nacionais e internacionais da Azul Linhas Aéreas, fazendo do terminal, que antes ficou quase paralisado, o terceiro aeroporto em movimentação de cargas e passageiros do Brasil.

Essa política pública tirou os voos nacionais do Galeão e os levou para o aeroporto Santos Dumont, hoje o quinto mais  importante do país, que, atualmente, não aguenta sequer mais voos. É por ele que passa, atualmente, a maior parte dos  passageiros que chegam ou partem do Rio, numa operação de conexão com Guarulhos - que tomou para si o título de o principal aeroporto do país.

A “porta do Brasil” agora está espalhada por vários estados, mas com uma concentração maior em Guarulhos. É para lá que migrou a maior parte dos voos internacionais que antes operavam a partir do Galeão. Além disso, Guarulhos investiu no trem, que, mesmo não sendo o ideal, leva os passageiros diretamente às linhas de metrô. Guarulhos também recebeu investimentos na ampliação de novas salas de embarque, no crescimento forte do terminal 3, mudanças logísticas importantes de acessos e estacionamentos em abundância.

Sem mudança do cenário, estão ficando cada vez mais escassos os voos no Galeão, obrigando cariocas e fluminenses a fazerem escala em São Paulo, bem como tornando mais difícil a vinda de turistas para o Rio. Com menos voos de passageiros, também diminui o transporte aéreo de cargas, afetando, diretamente, as operações de importação e exportação do Estado. 

Ao mesmo tempo em que o Galeão e o Rio viveram esse processo de decadência, nas últimas duas décadas os mineiros consolidaram o fortalecimento do aeroporto internacional de Confins. Além disso, os aeroportos de Campinas, Porto  Alegre, Brasília e Recife também cresceram demasiadamente em voos nacionais e, consequentemente, internacionais tendo um reaquecimento das demandas.

Mas no caso do Rio de Janeiro, não é apenas os interesses e as brigas tarifárias. A logística desse aeroporto internacional ficou obsoleta. Para se sair ou chegar até o Galeão, os turistas enfrentam um grande desafio. O abandono total da  cidade do Rio de Janeiro e o tráfico de drogas são duas variáveis importantes na escolha das cias aéreas.

As linhas Vermelhas e Amarela, o Complexo do Alemão e o Complexo da Maré, são áreas de confronto e guerra civil, além de guardarem o maior arsenal de armamentos - os mais perigosos do Brasil. O problema não é de administração, da Infraero. O problema é de segurança. O Rio de Janeiro vive o pior momento da história. Os últimos cinco governadores presos e ou processados, prefeitos da capital fluminense também, escândalos atrás de escândalos das assembleias da capital e do Estado.

Do Galeão partiam voos para Seoul, Frankfurt, Washington, Hong Kong, Tokio, Miami, Roma, entre outros destinos  internacionais e atualmente o aeroporto opera com só 16% de  sua capacidade. Governada por grupos políticos sem visão  periférica e de quase sem nenhuma credibilidade, as cias aéreas internacionais resolveram migrar para locais mais seguros.

Uma cidade maravilhosa como essa não pode viver apenas de futebol e carnaval, isso não dá segurança econômica a ninguém. A cidade e o estado do Rio de Janeiro precisam  parar de fingir que governam para repensar suas políticas públicas.

Está mais que na hora desse destino decolar!

* Diretor Executivo da Assimptur

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