Claudio OlivaClaudio Oliva é jornalista especializado em turismo e hotelaria, pós-graduado em Turismo pela Universidade de Barcelona, presidiu a Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo. Editor da Qual Viagem, colaborador em diversos portais de turismo, é também diretor Executivo da Assimptur Assessoria de Imprensa.

Novembro deve marcar a normalização do movimento turístico da Serra Gaúcha

Cláudio Lacerda Oliva*
turismologoali@hojeemdia.com.br
27/06/2024 às 13:59.
Atualizado em 27/06/2024 às 14:00
Gramado (Renato Soares / MTur)

Gramado (Renato Soares / MTur)

Falar em turismo nesta hora de grandes perdas por todos os lados pode parecer desumano. Qualquer coisa pode ser válida, mas não é. O Rio Grande do Sul é um dos estados mais importantes nesta área da economia, com milhares de hotéis, restaurantes e meios de transporte essencialmente para servir este segmento e emprega até 200 mil pessoas.

Neste momento, tudo isso está às moscas, à espera de hóspedes e clientes que não vieram e provavelmente não virão tão cedo. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH/RS) monitora o setor e acredita que
os prejuízos são incalculáveis. Só na Serra Gaúcha – Gramado, Canela, Nova Petrópolis, por exemplo – são estimados R$ 500 milhões que deixarão de ir para aquela região.

O técnico em hotelaria da ABIH/RS, José Justo, diz que só estão na Serra Gaúcha, neste momento "10 ou 12 de visitantes muito corajosos". A empreitada para chegar até lá é impossível. Viagem que se faz em duas horas, hoje só é possível chegar por lá depois de cinco ou seis horas. Há desmoronamentos no caminho e é necessário utilizar desvios vicinais, estradas alagadas, de chão batido ou completamente encharcadas.

Não há, sem dúvida, vontade nenhuma de fazer turismo nestas
condições.

Gramado enfrentou desmoronamentos em alguns bairros. Os hotéis estão fechados ou só recebem um ou outro hóspede. Nem vale a pena abrir.

Empregados já temem perder os empregos.

A cidade recebe cerca de 8 milhões de visitantes por ano – do próprio estado, do país e exterior – segundo informa o Sindicato das Empresas de Turismo do Estado, utilizando dados do Sebrae/RS. Só no município deixarão de ser arrecados R$ 100 milhões em junho e julho, meses da alta estação.

"São recursos que chegam através de turistas que vêm curtir nossa hotelaria e gastronomia e ver neve nem sempre provável", disse Ricardo Bertolucci Reginato, secretário de Turismo.

Outro ingrediente para atrapalhar o turismo da região é o fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho de Porto Alegre, fechado por tempo indeterminado. As pistas estão completamente alagadas ainda hoje em quase toda a sua extensão, além de equipamentos elétricos, eletrônicos e hidráulicos. Tudo está dilapidado.

"A falta do aeroporto terá um impacto gigantesco, ainda mais porque não temos certeza da data de reabertura, por isso não podemos ficar parados esperando", pondera Bertolucci. 

No meio deste cenário de tragédia, quem está bem na foto são alguns hotéis de Porto Alegre, que estão acolhendo moradores abonados da própria capital, que fugiram de casas e apartamentos por falta de água, luz e internet. O Plaza São Rafael Hotel, por exemplo, está com ocupação de 60%, um índice anormal nesta época intermediária entre verão e inverno. Os preços estão sendo mantidos, sem reajustes exploratórios, mas há casos de aumentos de até 30%.

Mas quem fugiu de Porto Alegre para manter a sua vida inalterada não está se dando tão bem como imaginava. Capão da Canoa, no Litoral Norte, com 80 mil habitantes fixos, está com superlotação. Já estão por lá 300 mil pessoas, segundo informa a prefeitura local. A cidade não estava preparada para suportar tal volume de pessoas nesta época do ano. Há registros de problemas de abastecimentos nos supermercados e restaurantes.

Então, pensar no setor de turismo nesta hora não é escárnio e nem desumano. Agora, fazer turismo é quase uma ofensa. Mas, enfim, a área precisa sobreviver. Muita gente depende dela e reforça a economia gaúcha.

Vamos, portanto, ajudar o Rio Grande do Sul nesse momento trágico, onde a economia como um todo perdeu muito, mas o turismo foi um dos mais prejudicados, a começar pelo fechamento do aeroporto de Porto Alegre, que deve reabrir apenas em outubro, isso se as chuvas e o tempo firmarem e derem uma trégua.

Acreditamos que a partir de novembro as cidades turísticas da Serra Gaúcha já devem estar mais preparadas para receber de maneira alegre e contagiante os turistas de todo o Brasil.

* Diretor Executivo da Assimptur

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