Para além de benefícios à saúde da população e proteção ao meio ambiente, o saneamento básico é um propulsor de desenvolvimento socioeconômico de uma localidade. Entre uma das atividades econômicas diretamente impactadas pelo acesso ao saneamento, o turismo tem como pré-requisito para seu pleno exercício o acesso à água tratada e aos serviços de coleta e tratamento de esgoto.
Infelizmente é o que não se vê na cidade de Camanducaia e em Monte Verde- distrito dessa cidade que fica no sul de Minas Gerais, há 160 km da capital paulista e a 350 de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais.
A Copasa, órgão responsável pelo gerenciamento de água e esgoto da cidade e seu distrito turístico, foi procurada e não se posiciona a respeito. Além disso, a atual prefeitura se cala, mediante uma enxurrada de denúncias por parte de moradores, turistas e alguns empresários.
Na cidade até existe um sistema de tratamento, mas está totalmente inoperante. A água preta, fedida e imunda corre sem tratamento algum, poluindo um dos rios mais cristalinos da região, deixando um odor terrível, além de uma sensação de inoperância e falta de direito com a população, que paga pelo tratamento de esgoto e não tem o serviço disponibilizado de fato. Isso na minha opinião, é estelionato, concordam?
O saneamento adequado valoriza o ambiente urbano, influenciando diretamente na atividade turística de uma região. Ou seja, onde o saneamento é precário, o potencial turístico será comprometido devido à degradação ambiental, afetando negativamente as oportunidades de emprego e negócios.
Para além disso, a renda dos trabalhadores do setor de turismo em áreas com saneamento básico é significativamente superior àquela em áreas carentes desse serviço.
Segundo informações do IBGE,ME (2022) presentes no Painel Saneamento Brasil, a renda do trabalho dos empregados em turismo que moram em residências com saneamento básico é de R$ 2.383,53, enquanto a renda do trabalho no turismo daqueles sem saneamento é de R$1.785,79 – uma diferença de R$ 597,74.
Sendo assim, se um município não tem saneamento, a proporção de sua população empregada nas atividades do turismo será menor, impactando também a renda das pessoas que atuam no setor.
Para a valorização das atividades econômicas, em específico da atividade turística, a universalização significará uma renda maior para os trabalhadores do setor, maiores lucros para as empresas e impostos também maiores para os governos, principalmente para os municípios que recebem impostos sobre os serviços e as atividades de turismo.
A minha pergunta é a seguinte: Se a prefeitura não responde a essas demandas, se a MOVE – Agência de Desenvolvimento de Monte Verde, não tomam providências, se o secretário de turismo não se importa com isso, qual será o futuro do turismo em Monte Verde?
A temporada de inverno, deve terminar em mais três semanas, sendo notório a falta de planejamento do turismo local.
Faltam eventos profissionais, não existe uma política de desenvolvimento do setor, não há avanços de obras sérias para melhorar definitivamente as condições turísticas do município, e o turismo encontra-se a Deus dará. Não existe por parte da MOVE uma prestação de contas, o secretário de turismo local é omisso e as poucas obras só aconteceram por conta de pressão intensa da sociedade civil, que organizou no ano passado uma audiência pública em Belo Horizonte para discutir os desmandos da atual administração.
Movimento despenca e faturamento também
O faturamento dos empresários de Monte Verde nessa temporada de inverno foi no mínimo 40% menor que do ano passado. Mesmo com o dólar nas alturas, o que acabou deixando mais de 45% dos viajantes no Brasil, Monte Verde não conseguiu atrair esse público e viu o faturamento minguar de maneira absurda, enquanto outros destinos próximos tiveram incremento da ordem de 25% de crescimento em relação a temporada de inverno do ano passado.
Caro leitor, eu lhe pergunto: a culpa dessa baixa ocupação nas férias de inverno é dos empresários?
Eu frequento Monte Verde como turista há quase 4 décadas, e ano a ano, só assisto o aumento das construções de pequenos meios de hospedagem, hotéis, comércios de todos os tipos e nada da cidade responder com obras, planejamento, calendário de eventos ou atuação agressiva nos mercados de venda do turismo.
Camanducaia não esteve presente sequer em nenhum grande evento do turismo estadual, regional, nacional e internacional. Não existe material promocional, não existe uma campanha sólida para chamamento do público em geral. Não há atrativos para crianças, não há interesse em promover investimentos em equipamentos públicos como teleféricos, espaço para realização de eventos, sanitário público, área de estacionamento, parques municipais com lagos, churrasqueiras, trilhas para caminhada, equipamentos para exercícios.
Com desculpa de normatização, estão acabando com os passeios a cavalo, com os passeios às pedras, com o eco turismo da cidade. Se a MOVE recebe recursos advindos das taxas que ela mesmo cobra dos turistas, por que não repassa os valores para melhoria dos equipamentos já existentes na cidade, e não planifica outros? O Parque do Cadete estava jogado às traças, e agora fizeram uma pequena limpeza e não há detalhamento do que será feito no local. Nas poucas trilhas que a cidade ainda tem, a manutenção é duvidosa e a sinalização precária.
Decepção com a ditadura do turismo local
Esse texto reflete minha total decepção em relação à ditadura do turismo em Camanducaia e consequentemente em Monte Verde. Um prefeito que só faz algo quando se sente ameaçado, uma associação que não presta contas do que fatura e não realiza assembleias abertas para angarias novos sócios, ou recebe e o que faz com verbas, um secretário de turismo ineficiente e fantasma e três coisas gravíssimas acontecendo.
Saneamento básico zero, falta de transparência e políticas públicas sem qualquer verdade para o turismo de uma cidade que conta com mais de 300 meios de hospedagem. Está na hora da população exigir mudanças imediatamente. Chega da população local e dos turistas serem tratados como esgoto.
Embora seja difícil, eu ainda acredito em Monte Verde. Podemos começar mudando o atual cenário, e depois cobrar de maneira forte quem comandará o turismo local.
* Diretor Executivo da Assimptur