Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

42 anos sem JK

Publicado em 31/08/2018 às 19:21.Atualizado em 10/11/2021 às 02:13.

Transcorreu sem a lembrança merecida. E agosto já passou e, com ele, a data do trágico falecimento de Juscelino, o presidente da República sempre referido como dinâmico e realizador. Ele perdeu a vida quando fazia a viagem de São Paulo para o Rio de Janeiro, no 22 de agosto, em 1976. O acontecimento, no entanto, não foi de todo esquecido, porque o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal e sua Comissão de História e Geografia promoveram cerimônia alusiva aos 42 anos do acidente que impactou o país. 

Como não poderia deixar de ser, o “Correio Brasiliense” evocou a data e os acontecimentos. Adirson Vasconcelos, hoje aos 82 anos, que trabalhava no “Correio do Povo”, de Recife, foi escalado para cobrir a solenidade de lançamento da pedra fundamental da nova capital, em 5 de maio de 1957. O jornalista está lá até hoje, onde reside num apartamento e na chácara de Planaltina, em fase de transformação em museu.

Adirson recorda aquele tempo e o personagem principal: “ele visitava os canteiros de madrugada, falava para mil, 2 mil, 5 mil trabalhadores, gente humilde, rude, muitos analfabetos... Abraçava os candangos, dizia que contava com eles para inaugurar a capital em 1960. No dia seguinte, a palavra dele se multiplicava. Tenho certeza de que foi por isso que Brasília ficou pronta”.

Danilo Gomes, meu confrade na Academia Mineira de Letras, que também se instalou em Brasília em seus primórdios, tem a gentileza de enviar-me recortes sobre a capital federal do Brasil – 2018. Danilo devota especial atenção aos fatos, até porque nasceu em Mariana, primeira vila, primeira cidade e primeira capital de Minas, o que não é pouca coisa, além de parente próximo do cardeal dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, que rezou a primeira missa em Brasília com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. 

Voltando a Adirson, ele recorda o sofrimento de JK no exílio. Indo à Alemanha, esticou a viagem a Paris para visitá-lo. E anotou: “ele era muito vigiado. Estava morando em um apartamento pequeno, modesto. Levei nos bolsos dinheiro que um primo dele arrecadou e eu coloquei mais um pouco. Abri o armário e coloquei num casaco. Ele me abraçou e agradeceu muito”. 

Contudo, a lembrança de Juscelino parece esmaecida pelas agruras pelas quais ora passa o povo brasileiro, menos de meio século transcorrido do acidente na Fernão Dias. Pela televisão, pude ver apenas uma reportagem novamente transmitida, pela Globonews, relatando a atividade política e administrativa do idealizador de Brasília. Como é frágil a memória dos homens!

Como anos antes com Vargas, o ataúde com o corpo de Juscelino foi carregado nos braços do seu povo. No entanto, como afirmou o colega de profissão Fernando Araújo, no último adeus, estiveram os seresteiros de sua querida Diamantina, cantando o Peixe Vivo que embeveceu a sua juventude e, junto com amigos, entoava ao redor de uma fogueira, todos de braços dados, nalguma praça do Velho Tijuco ou nos acampamentos da construção de Brasília. 

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