Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A ameaça que não para

Publicado em 22/08/2017 às 19:18.Atualizado em 15/11/2021 às 10:12.

A troca de ameaças e a guerra de palavras entre os presidentes dos Estados Unidos e da Coreia do Norte foram inseridas na pauta diária da mídia. Até onde o conflito verbal se ampara na realidade, eis a questão. Há uma diferença – Trump diz e desdiz, o coreano fica mudo e é irredutível. “Mas, o jornal de sua capital – o “Rodong Sinnum” – informou: “O caminho do grupo de Trump em continuar deste atoleiro só terá como consequência motivar mais nosso Exército e dar mais razões à República Popular Democrática da Coreia para possuir armas nucleares”. Confirma-se, portanto: o país ainda não tem domínio atômico. 

Enquanto isso, ansiosamente se admite uma tragédia de dimensões insabidas (?). O ministro de Defesa do Japão informou que seu país poderia derrubar mísseis da Coreia do Norte, se o regime de Kim-Jong-Un disparar contra Guam, território americano no Pacífico. Mas seria uma emergência nacional, porque ameaçaria a própria existência do Japão como nação. No ano passado, lei estabeleceu que o país pode disparar armas em defesa dos EUA e de outros aliados sob ataque inimigo. As circunstâncias mudaram.

Os fatos não estão distantes. O governo militarista japonês, durante a II Grande Guerra, aliou-se à Alemanha e Itália em 1940 e ocupou a Indochina francesa no ano seguinte. Em dezembro de 1941, a esquadra norte-americana em Pearl Harbour, no Havaí, foi destruída pelo Japão, sem declaração de guerra, que tomou o Sudeste da Ásia e a maior parte do Pacífico Ocidental. Logo, seria derrotado pelos aliados. Houve a reconquista de Guam pelos EUA, após permanecer sob domínio nipônico, desde alguns dias antes do ataque a Pearl Harbour. O Japão perdeu, então, mais de dez mil soldados.

Em 9 de agosto de 1945, Nagasaki foi alvo do ataque nuclear de Tio Sam, com muitos milhares de mortes. O poeta Emanuel Medeiros Vieira lembrou que, em 6 de agosto, segunda-feira, 8h15 da manhã, a bomba já explodira em Hiroshima: a bomba, tão clara, exata, cirúrgica, bomba geométrica, certeira. A bomba vem do céu, mas não é ave. “A bomba vem de cima, mas não é Deus”. Em 2017, o prefeito de Nagasaki, Taue, em pedido emocionado, implorou a Tóquio que assine o tratado da ONU que proíbe as armas nucleares.

Para Taue, a posição do governo japonês: “é algo difícil de entender para os que vivem nas regiões afetadas pelos bombardeios nucleares, há 72 anos”. Tem razão. Em princípio de julho, foi celebrado o acordo e assinado o compromisso por 122 estados-membros da Organização das Nações Unidas. No momento, as potências nucleares – Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, China, França, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel – boicotaram as discussões, assim como o próprio Japão e a maioria dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan. O que se há de pensar?

O sociólogo Paulo Delgado comentou: “O completo despreparo, a imprudência e os impulsos bélicos do ditador norte-coreano são bem espionados e documentados. Deixa à parte a triste sina dos que se encontram sob seu jugo; o realismo do xadrez internacional encontrou na dívida existencial que Pyongyang tem com Pequim o meio para impor limites aos devaneios que movem a espalhafatosa ditadura”. E as demais nações? E o mundo fica, mais uma vez, em suspense. 

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