Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

À beira do fogo

Publicado em 03/07/2024 às 06:00.

Nova estação do ano chegou. Desta vez, praticamente todos os países se preocupam com o que virá. Vivemos tempos difíceis e o noticiário de toda a imprensa mundial cuida de divulgar e esclarecer causas da hora presente, como a população deve agir para evitar o agravamento da situação.  Jornal de Belo Horizonte estampa a manchete: “Maior parte da área atingida por queimadas era de vegetação nativa do Cerrado e da Amazônia”.

Imagem de satélites permitem análise do padrão histórico das ocorrências, mas se aduz que quase ¼ do país pegou fogo ao menos uma vez em 39 anos. Em nosso caso específico, Minas Gerais é o 9º estado em registro de casos. Informação atormentante, mas a que devem dar especial cuidado não só os prefeitos de agora e seus sucessores, mas todo o contingente humano. Todos temos responsabilidade no processo.

O conceituado jornalista Luiz Carlos Azedo titula seu artigo: “Caixa-d’água do Brasil está pegando fogo”. Eis um parágrafo: “O governo foi pego de surpresa em relação às queimadas, mas não foi por falta de advertência das instituições responsáveis pelo monitoramento do clima nem da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva”. “Depois das enchentes no Rio Grande do Sul, que se enquadram na categoria dos eventos externos, os incêndios do Pantanal e do Cerrado estão só começando e já são avassaladores”.

Minas tem intensa responsabilidade em tudo. É um dos maiores, tem a maior rede rodoviária, tem enorme população, envolve um complexo avantajado de cerrado e sofre influência climática de outras unidades federativas que podem ampliar seu potencial de destruição pelo fogo. O Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul estão perto e há condições favoráveis à propagação das chamas, sem lembrar que o território é uma espécie de caixa d’água do Sudeste, podendo aliviar ou ampliar a gravidade da situação atual. 

Sem pretender atirar culpa e responsabilidade a quem quer que seja, o quadro de Minas é delicado. Os heróis de Guimarães Rosa, ele próprio nascido e criado, na beira do cerrado, devem estar inseguros e inquietos. Li numa folha: “O cerrado perdeu 1,11 milhões de Hectares de vegetação nativa em 2023, um aumento de 67,7% em relação a 2022 (662.186 hectares), conforme o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, divulgado pelo MapBiomas”. 

O veterano Luiz Carlos completou o raciocínio: “O Cerrado abriga nascentes de nove das 12 principais bacias hidrográficas do país e que  contribuem para cursos hídricos de países vizinhos, como Rio do Prata, e essenciais ao agronegócio e à vida humana.  A supressão da vegetação compromete a perenidade dessas fontes de água potável, dos rios e dos lagos”.   

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