Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A crise chega à ONU

15/04/2016 às 20:01.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:58

Contam-se as horas para a votação pela Câmara dos Deputados do impeachment. Nunca, jamais, em tempo algum, o Brasil sofreu um processo de estagnação como o atual, enquanto as pessoas, muito naturalmente, se perguntam: e depois?

Em verdade, jamais um pesadelo foi tão amplo e profundo, se possível aplicar os dois adjetivos para classificar a presente situação. Nem Freud poderia talvez explicar o clima estabelecido, envolvendo os mais de duzentos milhões de habitantes de um país, grande e bobo, como o classificava o acadêmico Eduardo Almeida Reis. A nação está abalada muito justificadamente pelos acontecimentos (de causas sabidas, embora nem sempre provadas), inclusive os novos atos que emergem aos cidadãos a todo instante.

Antigamente se dizia que o Brasil se encontrava à beira do abismo. Depois, surgiu a versão de que o abismo era menor que os imensos problemas criados por indefinido número de pessoas, descompromissadas com os superiores interesses e causas nacionais.

Jamais um pesadelo foi tão amplo e profundo, se possível aplicar os dois adjetivos para classificar a presente situação

Enquanto se negociavam votos a favor e contra o impedimento, com métodos que razões denigrem o nome, o prestígio e o conceito da nação e de seus dirigentes, percebe-se que o mundo se inquieta pelo descalabro que nos corrói e as sombrias perspectivas da população que se dizia abençoada por Deus.

Não se trata, porém, de um problema político meramente doméstico, como inicialmente admitiu o secretário-geral da ONU, titular do importante posto exercido pelo chanceler Oswaldo Aranha.

Ban Ki-Moon, com a serenidade que o cargo impõe, formulou o primeiro apelo em relação ao Brasil nos quase dez anos de Secretaria na ONU, em atitude rara nos raros contatos das Nações Unidas com nosso país: “O Brasil é muito importante e qualquer instabilidade política é uma preocupação social para nós. Peço que os líderes adotem soluções harmoniosas de tranquilidade. Sei que é um desafio que o país vive. Mas acho que irá conseguir superar”.

Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, falando à imprensa na Suíça, foi além e advertiu mais vigorosamente. “Renovamos nosso apelo para todos os lados para garantir que o Poder Judiciário seja respeitado, que as instituições democráticas pelas quais o Brasil tanto lutou para ter sejam respeitadas e não sejam minados no processo”.

O bom-senso não rege nossos destinos, como conviria. A preocupação internacional é legítima. Houve um apelo até ao Judiciário, que precisa atuar com “escrúpulos, dentro das regras do direito doméstico e internacional, evitando posições político-partidárias”.

Mas como é possível evitar a judicialização se as decisões maiores são transferidas para a mais alta corte de Justiça do país? Rubert Colville, porta-voz da ONU, declarou: Preocupa-nos a possibilidade de um círculo vicioso que acabe afetando a credibilidade tanto do Executivo quanto do Judiciário”.

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