Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A dúvida de Putin

Publicado em 14/03/2023 às 06:00.

Os discursos e declarações de Putin abrem sempre um vislumbre de dúvidas e inquietações. No dia 21 de fevereiro, ele anunciou a suspensão da participação da Rússia no tratado Novo Start com os Estados Unidos, o último acordo de controle de mísseis nucleares vigente. Discursando no Parlamento, ele afirmou que a Rússia não irá atacar primeiro, mas está pronta para reagir, caso necessário. 

Dias após, 24 de fevereiro, o do primeiro ano da guerra contra a Ucrânia, falou novamente. O Kremlin informou que o ataque, isto é, a “operação especial” (é proibido classificar como guerra), teve como objetivo “desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia”, o que já causou mais de 300 mil mortes, incluindo civis.

No dia seguinte, quando Joe Biden, visitou Kiev e se reuniu com o presidente Zelenki, Putin novamente se manifestou. Argumentou que a Rússia está lutando por sua própria existência e que a Ucrânia se tornou refém do regime de Kiev e de seus “mestres” ocidentais.

As declarações de Putin exigem meditação. Quando afirma que a Rússia está lutando pela própria sobrevivência, estaria admitindo que sua resistência diante da Ucrânia, como apoio de vigorosos aliados no Leste europeu e dos Estados Unidos, está debilitada? Se assim for, porque não evolui para uma negociação em favor da paz, até porque “a operação especial” de invasão do vizinho, há exatamente um ano, se deu por iniciativa única e exclusiva do Kremlin?

A queixa do presidente russo parece notória demonstração de que Moscou não teria mais esperança de êxito em sua inoportuna e infeliz campanha iniciada em fevereiro de 2022? Ou Putin ainda  pensa consigo mesmo sobre o apelo ao poder nuclear, mesmo adivinhando o caos que causaria ao mundo, sobretudo à própria Rússia e às áreas de sua influência?

A guerra nuclear é uma hipótese sinistra, mas de todo modo uma hipótese que não se pode descartar. O que pretendia o Kremlin ao iniciar uma guerra, que como tal nem ele, Putin, gostaria de classificar?

O presidente tem, ao que se observa de sua biografia, disposições corajosas, bélicas – poderíamos dizer. Estaria considerando à  condenação à morte muitos milhares de russos como ele, afora os que a se lhe contrapõem?
A resposta fica com a história.

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