Parece um conto apenas, uma simples narrativa, mas é muito mais. É fato, verdadeiro, de nosso tempo, no qual predominam, ou quase, o mal querer, a intolerância, a disposição ao erro, ao crime em todas as suas variações, o crime, enfim. Mas falo de uma história de bem e de bom, de bem servir, de mensagem de paz e amor.
Refiro-me a Maria da Glória Calixto Mameluque, nome em documentos oficiais, nascida numa região recôndita de Minas Gerais, um dos maiores estados do Brasil, na hoje cidade de São Romão, à margem direita do Rio São Francisco.
Tinha um projeto, um sonho, muito remoto, mas se foi aproximando. Formou-se em Enfermagem pela PUC-Minas, para ficar mais perto dos doentes, dos que sofrem na dor, nos hospitais ou não.
Iniciou a missão na cidade de São Francisco, também junto ao rio que une longínquas regiões mineiras.
O casamento e o nascimento dos quatro filhos obrigaram a novos destinos. Transferiu-se para Montes Claros, a maior cidade do Norte, um das de maior representatividade econômica e social. Lá se formou em Direito, profissão do esposo, com quem abriu escritório de advocacia.
Não julgou definidos os anos seguintes. Em 2003, submeteu-se a um primeiro curso de Psicologia e, depois, inscreveu-se e fez o vestibular, a fim de melhor atender à clientela crescente, sendo aprovada. Sem perder de vista os horizontes, ingressou na carreira literária e na redação de colaboração a jornais, enquanto se prestava com o marido às duras tarefas junto a presos outros deserdados da sorte.
Ingressou na Academia Montes-clarense de Letras e deu sua contribuição e apoio à fundação da Academia Feminina de Letras, de que foi primeira presidente. Decidiu ingressar e participar do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, à Aclésia, sodalício literário de municípios da região, da Ajeb-MG, da Rede sem Fronteiras e Academia de Letras e Artes de Portugal.
Após viagens pelo mundo, de nove netos gerados pelos quatro filhos, de todas suas atribuições inclusive como juíza do Tribunal Eclesiástico Interdiocesano, cumpriu o rito que escolhera para si: fez o vestibular para Medicina, foi aprovada e iniciará o curso de Medicina para candidatos acima de 60 anos da Unimontes. E ela está com 86 e em plena capacidade física, intelectual e sentimental para o desafio.