Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A morte de um Castro

25/03/2016 às 15:56.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:38

Faleceu em Cuba, em fevereiro, o mais velho dos irmãos Castro, de que é figura central até hoje Fidel, mesmo sucedido no governo por Raúl, também já pedindo descanso. O pai – de muitos filhos – Ángel, era um rapaz do vilarejo de Lugo, na Galícia, Espanha, que se aventurou pelo mundo, como conta Alina Fernández, a filha rebelde de Fidel. O pater galego Ángel chegou a Cuba como recruta do exército espanhol e voltou à pátria, após a independência de Cuba que libertou os escravos. Os insurretos queimaram os canaviais e suas milícias incendiaram as casas dos colonizadores, como conta Alina, numa autobiografia polêmica.

Dom Ángel formou duas famílias. Uma com Lina, filha de turco e de cubana, que a deram em troca do uso de um barraco, após atravessarem “a ilha inteira em cima de uma carroça de desventura”. O primogênito masculino foi Ramón e o quarto recebeu o nome de Fidel, nascido de madrugada sob o signo de Leão. A avó profetizou: “Este é o único dos filhos que vai ser alguma coisa na vida”.

Na outra família, Ángel se uniu aos Diaz-Balart, das altas rodas políticas da ilha e que se orgulhava de possuir um ministro no governo. Ainda estudante de Direito e sem ofício, o futuro líder tentou tudo, até criar galinhas e administrar uma venda de frituras numa esquina de Havana Velha, experiências desastrosas.

Ramón, irmão mais velho do Comandante, era igual a ele, em versão guajira, ou seja, de camponês branco da ilha. Aos 13 anos, apaixonou-se por uma haitiana ardente. Ele fugia à noite de casa para encontrar-se com ela e retornava, no dia seguinte, pálido e abatido.

Vivia Ramón no outro lado do território, quando Fidel venceu a sua revolução e o mais velho viu-se “condenado a tomar conta de uma base de caminhões”. Nunca quisera ajudar o irmão rebelde na Sierra (Maestra), mas quando a Revolução triunfou, logo arrumou um uniforme verde-oliva. Não era o único. Pedro Emílio, nascido na família Argote, chegou a confessar: “Não o acuso de nada, porque é bem sabido que fiz o mesmo. Mas acrescentei ao uniforme uns grauzinhos de capitão”.

Sabendo-se desprezada por Ramón, sua mulher, aquela com a qual fora presenteada, tentou suicídio após suicídio, e, quando não tinha com que envenenar-se, cortava os pulsos. Finalmente, dependurou-se no corrimão de uma escada, sem ninguém para salvá-la.

Ramón era incansável. Arrumou uma nova amante. Num aniversário da sobrinha Alina, apareceu o tio, que seguia tirando tristes canções ao violão, e lhe trouxera um bolo gigante transportado numa maca de hospital. Fidel apareceu inesperadamente, com duas caixas de couve-flor como presente.

Os velhos tempos passaram, as desavenças, as arestas em família continuaram. A tia Juanita, nascida pós-Fidel, afirma que o relato da sobrinha difama a família. Agora, depois de 88 anos, um presidente dos Estados Unidos visita Cuba. Obama foi recebido por Raúl Castro, o sexto dos oito filhos de Ángel. As diferenças familiares dos Castro, contudo, persistem. A leitura do livro de Alina ajuda entender.

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