Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

A residência de Jacob Zuma

07/04/2016 às 19:53.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:51

Brics é a sigla adotada por cinco nações para identificar um programa de ações no campo sobretudo econômico. São elas: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, a última representando a South África, aquela que Nelson Mandela ajudou a construir inclusive com sacrifício pessoal e 19 anos de prisão.

 A história da África do Sul é marcada por muito suor, sangue e lágrimas, como Churchill definiu necessário aos ingleses para vencer Hitler na Segunda Grande Guerra. Com a libertação de Mandela em 1990 e o retorno à legalidade do Conselho Nacional Africano, os destinos da nação tomam novos rumos. O presidente De Klerk revoga as leis raciais e retoma o diálogo com a CNA. 

Em 1953, Mandela ganha o Nobel da Paz, com De Klerk, candidata-se e se elege presidente da África do Sul nas primeiras eleições multirraciais. Mas a praga da corrupção já começava a minar a estrutura administrativa, em 2005. Escândalos atingem deputados do Conselho Nacional Africano e o vice-presidente do partido, Jacob Zuma, aparece como suspeito de favorecimento a uma indústria de armamentos. É demitido, mas retorna à cena. Indiciado por estupro, é inocentado. 

A despeito de tudo, Mandela apóia Zuma, candidato da CNA à presidência, vencedor das eleições de 2009. O país, grande e rico, principal produtor mundial de ouro e um dos líderes na exportação de diamantes, entra em recessão pela primeira vez em praticamente duas décadas. Há protestos nos bairros pobres, o PIB encolhe, e mais de um milhão de servidores paralisam a África do Sul por melhores salários.

Os jornais brasileiros de 1º de abril de 2016, popularmente dia da mentira, mas contando a verdade dos fatos, informaram que um tribunal sul-africano confirmara que o presidente Jacob Zuma (ele de novo ou ainda) usara dinheiro público para reformas em sua residência privada. O Tribunal determinou que ele devolvesse a quantia, enquanto a oposição aproveitava a ensacha oportunosa para apresentar um pedido de destituição. 

O presidente do Tribunal, Mogoeng Mogoeng, foi enfático quanto às contas do administrador nacional: “Zuma não respeitou, nem defendeu, nem seguiu a Constituição”. O escândalo ganhou apelido: Nkandla, nome da pequena localidade onde está o imóvel em questão. O caso se transformou em símbolo de corrupção contra seu governo e seu partido, exatamente o Congresso Nacional Africano.

Para que desviou dinheiro do erário? A principal instância judicial da África do Sul, ao exigir a devolução dos recursos ilicitamente transferidos, aponta sua utilização na construção, naquela propriedade de Zuma, de uma piscina, um celeiro, um anfiteatro e um local para receber visitas, tudo somando U$ 24 milhões. Só isso. 

Mas Zuma, de 73 anos, que controla o Parlamento após a vitória nas eleições de 2014, tem mandato até 2019 e sabe perfeitamente que a situação do país é delicada. A economia não está bem e mais acusações de corrupção tramitam nos tribunais.

O maior partido de oposição não silencia: “As ações do presidente Jacob Zuma constituem uma violação muito grave da Constituição e justificam um processo de destituição”. Zuma, porém, prefere pagar o valor do desvio a evitar a perda do cargo. Isso é a África.

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