Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Adeus a Aluísio

12/05/2016 às 18:38.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:24

Nascido em 1923, em Peçanha, Aluísio Pimenta foi o terceiro no grupo de dez irmãos. Veio para a capital, seguindo os passos do primogênito, Ruy, que se diplomou em Medicina e foi professor na Faculdade da UFMG. Em 1945, o segundo aqui chegado, formou-se em Farmácia pela Federal. Residiu próximo à Igreja da Boa Viagem, na rua Timbiras, quando o conheci. Era alto, esbelto, já cônscio de futuras responsabilidades profissionais e como cidadão. Foi o orador da sua turma, por motivo óbvio, e representava bem aqueles jovens que começavam a vida, plena de sonhos e de força de vontade.

Aliás, 1945 foi um tempo especial: o fim da Segunda Grande Guerra, a queda de Getúlio Vargas. Sonhava-se com democracia plena e a consumação de ideais que os moços tão bem acolhem e acalentam. Submeteu-me à leitura o texto que leria na cerimônia de diplomação, cujos termos vigorosos e lúcidos mereciam total plena concordância. 

Seu discurso abrangia observações de quem tinha condições de oferecer uma contribuição efetiva na definição de políticas públicas. Um objetivo consistia em abandonar a ideia de que o capiau, o nosso camponês, era preguiçoso ou indolente, como se suporia erroneamente pela literatura de Monteiro Lobato. Como denunciava Aluísio, tratava-se de uma população subnutrida, marginalizada, sem acesso à educação, acometida de toda sorte de doenças endêmicas e sem assistência.

O homem da roça, desconhecido ou abandonado pelos governos, deveria ser resgatado. A primeira grande proposta de Aluísio, ao longo de sua existência como cidadão, professor, dirigente de organismos nacionais e internacionais era conduzir o homem do campo, do interior, à efetiva integração na sociedade. À frente do Ministério da Cultura levou à prática seus projetos. 

Um dos marcos mais relevantes de sua existência foi a criação da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), visando vincular de vez o jovem às origens, quando chegasse à idade adulta. Cumpria mantê-lo fortemente em suas raízes e evitar que, transferindo-se aos grandes centros em que se instalavam as universidades, extirpando-o do meio. Reitor da UFMG, o mais novo do Brasil, teve atuação profícua, considerado um dos melhores e mais avançados gestores. Diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), percorreu vários países assimilando experiências úteis ao Brasil ou mostrando as grandes potencialidades da pátria, de que fora afastado por injustificáveis decisões do regime militar, durante 17 anos. 

Em livros, artigos e conferências expõe ideias e propostas para emancipação do homem brasileiro e iniciativas valiosas ao desenvolvimento do Estado e do país. Cumpriu seu objetivo e, aos 93 anos, em Belo Horizonte, no último dia 9, cercado de respeito, de carinho e de admiração, foi sepultado. Seu aluno no Colégio Santo Agostinho, gozei de seu convívio como confrade na Academia Mineira de Letras, nos anos mais recentes. Dele, finalmente, disse a acadêmica Elizabeth Rennó: “Aluísio Pimenta condensa em seu currículo a formação e o desempenho de um estadista”.

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