Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Águas do sertão

Publicado em 17/01/2023 às 19:37.

As chuvas do final de 2022 e as que chegaram com o novo ano legam uma imensidão de problemas para o sertão mineiro, aquele que foi incluído, após esforços ingentes de autoridades da região, dos prefeitos e dos parlamentares eleitos à Assembleia Legislativa e à Câmara Federal, na área da Sudene.

Os brasileiros, mesmo os mineiros, se esquecem de que Minas Gerais tem um território muito extenso, que oferece vantagens e desvantagens igualmente numerosas, que se constatam e se provam no cotidiano. Somos o meio do caminho entre o Nordeste e o Sul, um Sudeste que propicia alegrias e esperanças, mas também dificuldades e desafios incessantes.

O sertão, o vale do Jequitinhonha, o Norte do Estado, é uma síntese de desafios que obriga o homem destes pedaços do Brasil a permanente em alerta. É o caso da falta de chuvas, as longas estiagens, das secas periódicas que causam males indesviáveis  aos que habitam o chão, pródigo e, mas às vezes, imprevisível.

Acima de Curvelo ou por ali, começa um novo mundo. Os que vivem nessas terras contam. Nos anos de chuvas torrenciais, antigamente – e não vai longa a extensão de tempo – a ponte sobre o rio Verde, na divisa de Montes Claros, era carregada pelo turbilhão de águas barrentas e grandes toras de madeira. Para transposição da corrente, para quem viajava de carro, fosse automóvel ou caminhão – tinha de ser  usada uma corda, estabelecendo uma espécie de bonde aéreo, sobre o espaço correspondente à largura do rio, contando como segurança de um cabo de aço, manobrado manualmente.

Enfim, tinha-se de vencer o rio Verde, em que tantas vidas se perderam no período de chuvas inclementes. Não se podia, é claro, parar em meio ao itinerário a ser cumprido. Assim, foi o homem do sertão mineiro, ou aquele obrigado a percorrê-lo, vencendo os reptos naturais.

Nem todos os óbices foram vencidos. Os que leem jornais ou se inteiram dos fatos atuais estão assistindo ou  tomando conhecimento das pesadas chuvas deste ano, das águas que invadem cidades pequenas e grandes, deixando um elevado saldo de prejuízos materiais e de vidas perdidas.

Poder-se-ia dizer como fez Euclides da Cunha: o sertanejo é, antes de tudo, um forte. Os de Minas também o demonstram.

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