Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Alertas e espectros

Publicado em 04/03/2023 às 16:41.

Impressiona no exterior a posição do brasileiro diante dos recentes e delicados problemas que o têm afligido. Enquanto se desenvolviam ingentes esforços individuais para atender às demandas dos mortos e demais vítimas da tragédia no litoral norte de São Paulo, esbaldavam-se grupos de foliões, mesmo nas cidades paulistas, em louvor a Momo.

Tem-se de convir com a variação dos sentimentos diante dos fatos. Ninguém é igual, nada é idêntico inteiramente. Mas os estrangeiros, inúmeros em áreas de guerras e sofrimentos outros, se espantavam conosco pela diversidade de posturas em face dos acontecimentos, que teriam consequências funestas e dolorosas no decorrer do tempo e da história.

Um fim de semana de imensa tristeza, de lágrimas para muitas dezenas de famílias, enquanto se divertiam fartamente milhares, possivelmente raciocinando que nada poderiam fazer em favor e em solidariedade às vítimas do entrechoque das águas do mar e das chuvas.

Uma autoridade federal observou que aproximadamente 14 mil pontos de riscos altíssimos de desastre como o de São Sebastião existem hoje no Brasil. Nesses perigosos locais habitam em torno de quatro milhões de pessoas. Algumas dezenas perderam a vida no fim de semana, enquanto soavam os tamborins e desfilavam as elegantes escolas de samba e tradicionais blocos carnavalescos.

Por todo o território nacional, à beira-mar ou em distantes e recônditos trechos das cidades e de duas vias públicas, mora o perigo e se vislumbrava a morte por força da natureza. As populações que moram em áreas de risco hesitam ou se negam em ouvir os alertas. E terminam perdendo o seu bem maior: a vida.

Mesmo em regiões belíssimas como as em questão, perpassam espectros fatais. Não podemos ignorá-los.

O Brasil tem uma Defesa Civil bem estruturada e o desastre em São Sebastião e redondeza o confirmaram. Mas o brasileiro tem de mostrar que quer viver mais e, quem sabe, aproveitar os dias de Momo, a que não faltam homens e mulheres de todas as idades possíveis, além evidentemente dos componentes da forma humana com outras orientações sexuais, que aproveitam ao máximo a ensancha oportunosa do carnaval.

O tríduo agora ganhou dias adicionais, de que se utilizam festivamente os adeptos de Momo. Representam, também, uma válvula de escape para as dificuldades e desafios cotidianos, que não são poucos.

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