Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Anchieta vê Afonso Pena

Publicado em 06/02/2017 às 19:16.Atualizado em 15/11/2021 às 22:43.

Conhecem-se cidades, percorrem-se ruas e avenidas, passeia-se por praças que receberam nomes de pessoas ilustres, mas não se cuida de saber quem foram elas. É típico do brasileiro, que mais se interessa por descobrir quem foram os homenageados com a denominação, com a toponímia viária, quando se encontra em Paris, Roma, Londres ou Washington. 

Atenho-me ao fato, ao transpor a principal avenida de Belo Horizonte, a Afonso Pena, nome de monarquista convicto, amigo do imperador, solidário com Ouro Preto, conselheiro de Pedro II e preso na proclamação da República. Afonso Pena não abdicou de ideias, foi solidário com o detido, mas teve o bom senso de aceitar o novo regime ao constatar que nada mais podia fazer. Como afirmou João Camilo, o historiador, “trouxe a sua experiência do Império, a sua capacidade de trabalho, seus conhecimentos de problemas econômicos e administrativos para a vida republicana”. Tornou-se um grande líder e os jovens republicanos o aceitaram. Minas conseguiu tirar partido da nova situação, em lugar de cair no caos e na anarquia”. Foi o primeiro mineiro a governar a República.

O prestigioso advogado José Anchieta da Silva, que tem escritório em elegante mansão da avenida Afonso Pena, cita – como motivo de orgulho – o fato de Afonso Pena ter sido duas vezes criador da primeira Faculdade de Direito em Minas Gerais. 

Lembra o grande mineiro (cuja assinatura é com dois ffs e dois nns, como consta de registro), nasceu também em Santa Bárbara do Mato Dentro, em 30 de novembro de 1847. Aos dez anos, foi levado ao Caraça. Aos treze, recebeu um certificado da direção do estabelecimento, registrando que frequentara as aulas de francês, inglês, geografia, história, matemática, aritmética, álgebra e geometria, retórica e filosofia, “com aplicação constante e tão notável proveito, que nos exames de todas as ditas faculdades foi aprovado plenamente com louvor”. 

Desde criança, defendera os escravos. Naquelas paragens, por sugestão sua, ficou estabelecido que as escravas grávidas, a partir do sexto mês, não faziam senão cozinhar e lavar roupa. Transferindo-se a São Paulo, estudou na já famosa Faculdade de Direito, sendo seus colegas Crispim Jacques Bias Fortes, Francisco de Assis Tavares, Tomé Pires de Ávila e Rui Barbosa.

Convidado a lecionar na faculdade, recusou e voltou para Minas, iniciando carreira em Santa Bárbara e Barbacena. Eleito deputado provincial, depois deputado geral ou federal, por vários mandatos. Aos 35 anos, foi nomeado ministro da Guerra, ainda na monarquia. Em seguida esteve à frente do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, passou pelo Ministério do Interior e Justiça e assinou a “Lei dos Sexagenários”. Em 1888, com Rui Barbosa, compôs comissão para elaborar o Código Civil. 

Com a República, voltou a Minas, pensando abandonar a política, o que não ocorreu. Eleito para a presidência do Estado, em chapa única, governou acima dos partidos, como salienta José de Anchieta, conduziu o processo de transferência da capital para Belo Horizonte. Alçou à chefia da Nação, contando com a colaboração de uma plêiade de grandes brasileiros. Agora denomina a principal avenida da capital que ajudou a criar.

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