Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Antes da República

Publicado em 11/12/2024 às 06:00.

Há dias, referi-me aos “Ensaios para uma história da arte de Minas Gerais no século XIX - Volume II”, de Ricardo Giannetti. É uma obra preciosa, pelo seu conteúdo, assim como pelo estímulo que nos dá ao estudo, ou ao simples conhecimento, do que se fez naquele período da existência no Brasil já com independência. José Murilo de Carvalho, em “A formação das almas”, 2000, se atém ao tema com a importância e abrangência que merece. 

Carvalho registra: “Ao final do Império, início da República, até mesmo os monarquistas começaram a reivindicar para si a herança de Tiradentes. Escrevendo após a proclamação, o visconde de Taunay reclamava contra o monopólio que os republicanos, especialmente os jacobinos, queriam manter sobre a memória do herói. Ao libertar o país, o Império, alegava, realizou o sonho de Tiradentes. Por essa razão, ‘também ele nos pertence’”. 

“A idealização de seu rosto   passou a ser feita não só pelos artistas positivistas, como Villares e Eduardo de Sá, mas também pelas características das revistas ilustradas da época.  Para os positivistas, a idealização dos heróis era regra da estética comtiana; para os outros, era apenas parte da tentativa geral de criar o mito e o culto do herói”.

De todo modo, aí está o mérito de Leopoldino de Faria, um pintor do Estado do Rio, focalizado com o devido respeito e importância por Giannetti, no livro mencionado. Em verdade, o quadro começou a nascer ainda na Monarquia, sob Pedro II, já idealizado e longamente elaborado em meados da década de 1870, e finalizada em 1880”. 

As datas assinaladas antecedem, em muito pois, ao surgimento das primeiras obras plásticas de exaltação ao herói que os entusiastas republicanos passarão a promover em suas propagandas, nos anos 1880, em redutos políticos e com maior ênfase, após 1889, em celebração para a qual irão contribuir os artistas Francisco Aurélio de Figueiredo, Pedro Américo, Décio Villares, Eduardo de Sá, Alberto Delfino, entre outros”.

 Em síntese, Leopoldino ensinou a se homenagear o republicano, ainda na vigência da monarquia. O quadro “Resposta de Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes), ao Desembargador Rocha” foi exposto, em 21 de dezembro de 1880, às 11 horas da manhã, em evento solenemente assinalado pela presença de Suas Majestades Imperiais e importantes convidados, em um dos salões da Typographia Nacional.

 As mais altas autoridades do país, em última análise, rendiam preito de homenagem àquele que, em 1792, fora preso na rua dos Latoeiros, Rio de Janeiro, e enforcado. Presente toda a Imprensa da época, a inauguração da mostra demonstrava a grandeza de Joaquim José e que um novo tempo começara.

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