Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Antes e depois de Zavascki

Publicado em 20/01/2017 às 19:52.Atualizado em 15/11/2021 às 22:29.

A trágica morte do ministro Teori Zavascki na última quinta-feira, 19 de janeiro, causou mais do que perplexidade a todos os que acompanham o cotidiano brasileiro. Os estrangeiros perguntarão o que acontece neste país, em que episódios lamentáveis, até escabrosos, se registram reiteradamente, causando medo entre os autóctones e suspeitas entre os parceiros de âmbito internacional. 

O caso do ministro é muito especial, exatamente porque lhe incumbiam as providências finais para homologar a delação da Odebrecht na investigação da “Lava Jato”, o maior escândalo na administração pública do Brasil em todos os tempos. Fortunas fabulosas foram construídas à custa de barganha, da propina, da corrupção enfim, em prejuízo do interesse nacional. Discretamente, como de seu feitio, Zavascki conduziu o rumoroso caso, analisando rigorosamente a documentação enviada pelo juiz Sérgio Moro, de Curitiba, um dos muitos a elogiarem a conduta do distinto magistrado. 

Antecipa-se um fevereiro extremamente difícil, até porque caberá proceder às investigações sobre o acidente em Paraty, como exigem as circunstâncias e autoridades judiciárias. Bem verdade que eu gostaria de escrever sobre as belas coisas com que a vida nos pode brindar. No entanto, o dever obriga a meditação em torno dos riscos presentes e ameaças futuras no campo social, político e humano. Os problemas econômicos e financeiros serão equacionados e resolvidos, mais dia menos dia. Mas o que pensar e dizer sobre as outras questões, quiçá mais delicadas e atrozes?

Transformamo-nos em itinerário e corredor de drogas, fabricadas pelas nações vizinhas e a serem consumidas no maior país da América Latina (que é o Brasil) ou exportadas para a Europa e Ásia. Silenciosamente, os criminosos encaminham os produtos do mal e da morte, enriquecendo milhares e viciando jovens desde a adolescência, obrigados depois, se possível, ao tratamento clínico, aos centros de recuperação ou às necrópoles. Milhares não escapam à degradação e a esses tristes fins passam ao próprio tráfico ou ao contingente de delinquentes recolhidos aos cárceres, em condições deprimentes como as telas de TV revelam e as fotos de jornais ilustram.

A imagem do Brasil está péssima, como se vaticinava. O britânico “The Gardian”, que não tira os olhos de nós, acha que os casos de Manaus e Natal não passam de mais um episódio na escalada de violência na guerra das gangues brasileiras pelo controle do tráfico de drogas. O “The New York Times”, em sucessivas edições, destaca a violência dos presidiários (eles autores de seus próprios destinos) e mutilados e decapitados. Mas as gangues criminosas querem manter o comando em suas celas e pavilhões. 

Deu nisso, como se preconizava. 

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