Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Antevisão do tempo

10/08/2020 às 15:24.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:15

Virgílio Veado, jornalista, advogado, que participou intensamente da vida política e de imprensa em Minas, não está mais entre nós, depois de presença marcante em episódios importantes da vida brasileira. Seu filho, homônimo, fez publicar, em 2011, o livro de circulação restrita, sob título de “Catilinária do Exílio – crônicas e confissões”, contendo pensamentos e sentimentos de Virgílio ao aproximar-se o ocaso. É algo que vale ser lido e meditado por seu conteúdo veemente, conciliado “com a consciência e com os inefáveis impulsos do coração e da alma”.

Nas primeiras páginas, uma dedicatória: “Aos que não se renderam, mantendo intacta a guarnição de sua honra, minha homenagem. Exemplos raros da integridade de caráter, não se deixaram contaminar pela desordem moral que arruína o país, preservando a personalidade, por mais cruciantes as incompreensões e os sacrifícios impostos à retidão de conduta”.

É a exposição de opiniões fortes sobre nosso tempo, ideias sobre homens que atuaram e atuam na vida pública, de alguns que já morreram e dos quais restam lembranças de posições e episódios de que participaram.

Alguns deles, desconhecidos ou quase, estão inseridos no conteúdo da publicação, que a um grupo muito reduzido chegou. Um tema ora em moda é observado, corajosamente: “Num cenário em que já se discute a sobrevivência da comunicação escrita, o subsistir de alguns poucos jornais que, apesar de tudo, não deixam de contribuir para a formação da consciência coletiva, não há como entregar tão importante mister à celebridade às vezes irresponsável da Internet, ao anonimato do mesmo mundo iconoclasta de sites de relacionamento, redes sociais, blogs, portais e buscas eletrônicas. Esses meios apenas servem para fomentar a superficialidade intelectual e temática de quantos os frequentam ou que deles passaram a depender”.

O escritor cita vários casos clamorosos da vida política brasileira, declinando nomes e épocas. E ironiza, lembrando uma figura popular da história, Caramuru, filho do fogo e sobrinho do trovão, que atirou em um urubu, errou a direção e acertou um avião: “maravilhou os índios, que passaram a tratá-lo com um deus, ao dar um tiro de espingarda, morreu milionário, como todo golpista, como todo espertalhão e foi homem forte do governador Tomé de Souza”. A morte virou música de Carnaval.

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