Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Ao apertar do gatilho

Publicado em 26/10/2016 às 19:57.Atualizado em 15/11/2021 às 21:24.

O viajor que chega ao Brasil lendo os jornais, ouvindo os noticiários ou assistindo à programação das tevês, ficará assustado, no mínimo, com o teor dos fatos de que toma conhecimento. Sem Estado Islâmico, sem os brutais embates na luta intestina e fratricida na Síria, sem os incidentes entre palestinos e israelenses ou, ainda, sem as escaramuças entre turcos e curdos, a impressão que se tem é de que nos tornamos também aqui campos de batalha.

Há conflitos por todos os lados. As notícias do Rio Grande do Sul despertam especial atenção, porque ali as pelejas sempre foram por outros motivos e meios. As mortes presentemente se dão nos bairros e no próprio centro urbano da bela Porto Alegre, à luz do dia ou nas trevas da noite. No Rio Grande do Norte, escaramuças se registram diariamente, com mortos e feridos, inclusive em Natal tão decantada em verso e prosa. 

Em São Luís, Maranhão, Estado de ilustres brasileiros, os fatos são cruéis e deploráveis, desde o presídio de Pedrinhas, núcleo de permanente rebelião de detentos contra a polícia estadual. Criminosos incendeiam os alojamentos e os coletivos na capital, durante noites sucessivas, obedecendo a ordens recebidas de detrás das grades, prejudicando o transporte coletivo e o sossego da população. 

Em Franco da Rocha, São Paulo, presídio-hospital psiquiátrico, que acolhe centenas de detentos, estes se rebelam e ateiam fogo aos alojamentos, permitindo que dezenas deles escapem. Um consolo: autoridades alertam que se trata de criminosos de alta periculosidade. Agora, cabe ao poder público, reconstruir tudo e recuperar. Quem paga? 

Em São Paulo ainda, a Secretaria de Administração Penitenciária informa que “o clima de harmonia que predominava” entre as grandes facções criminosas do Estado terminou. Elas partiram, novamente, para a guerra e, evidentemente, quem terá de suportá-la é a sociedade.

Os mais importantes presídios de Rondônia e Roraima se tornaram caldeirões em permanente ebulição. Em ambos, multiplicaram-se mortos e feridos e os governos estaduais se veem na contingência de apelar para a União.

No Sudeste impressiona a sucessão de ataques a bancos e repartições públicas. Em Belo Horizonte, a Polícia Civil prendeu grupo responsável por mais de trinta investidas contra caixas eletrônicos com prejuízo acima de R$ 1,5 milhão. Os criminosos são previdentes: fabricam os próprios explosivos. Também na capital das Alterosas, bandidos obrigam motoristas do Uber a atuar em crimes. Mas os taxistas também protestam: cinco deles são vítimas de meliantes todos os dias.

Pelo que se vê, não ingressamos no rol dos crimes ‘daselite’. É outro segmento expressivo no cotidiano do crime. Pergunto-me: ‘vale a pena ainda tocar no assunto?’.

No dia 1º deste mês, militares do Exército, destacados na segurança da Presidência da República, foram presos.Três deles são suspeitos de assaltar seis pessoas. O grupo usava pistolas das Forças Armadas para roubar dinheiro, celulares e objetos pessoais de pedestres em Ceilândia. Estavam com distintivos e crachás do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Este é responsável pela segurança do chefe da nação e pela coordenação dos serviços de inteligência federal, entre outras atribuições. 

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