Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

As melhores almas do mundo

26/04/2016 às 20:19.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:08

Ex-presidente do país com maior extensão territorial da América do Sul, em nossa época fez uma declaração que tocou profundamente o coração de todos os que nasceram no território: era ele a melhor alma do mundo, tendo dito diante de microfones e câmeras. 

Evidentemente, com empáfia, deixou os nascidos no país em causa, chamados brasileiros, profundamente orgulhosos. Tinha-se na relação dos homens bons dali (ou daqui), personalidades, cidadãos dignos entre os bons, num contingente tão elevado de maus. Cada cidadão deste país poderia evocar nomes e personagens que engrandeceram e engrandecem o país por sua ação humana, solidária, em episódios que entraram para a história. A maioria deles, por sinal, não quis gozar de primazias e privilégios, viveu na humildade, no silêncio, lutando pelos pobres, esquecidos e humilhados, que penam até hoje a insensibilidade dos maus e a incúria dos que já alçaram a altos postos na administração pública.

Eram milhões de infelizes, desprezados pelas classes superiores

Por oportuno, lembrar-se-á um indiano magérrimo, que tecia o próprio pano para confeccionar sua roupa “kaddbar”, iniciando uma luta incessante contra os colonialistas ingleses, que se assentaram na sua terra na segunda metade do século 18. A partir de 1920, a luta nacionalista se intensificou sob a liderança daquele magricela, de sandálias, já advogado, Mohandas Karamachand Gandhi. Mahamma , “a grande alma”, como o apelidou seu próprio povo, submetido a séculos de servilismo e opressão. 

O vocábulo mahatma, sânscrita, é composto de duas outras – maha, grande, e atma, alma, significando um homem de elevada perfeição espiritual. Gandhi faz sua pregação cívica, social e humana, estendendo-a à África do Sul, também sob domínio inglês. 

Sua vida é uma epopeia que chegou às letras e ao cinema. Para fazer pressão sobre os britânicos, criou um jornal – o “Nava Givan”. Por suas páginas, perdidas as esperanças nas promessas dos colonizadores, registrou: “Na Índia, de todos os lados, vê-se desespero. Esperava-se, confiava-se, que – depois da guerra (a 2ª mundial) o país teria um benefício compensado, mas a realidade desiludiu-nos”: Só no Satyagraha (no Brasil virou denominação de operação policial) está toda a esperança da Índia”. O movimento compreendia a resistência não violenta às determinações das autoridades, a desobediência às leis opressoras, a guerra econômica com o uso exclusivo de produtos nacionais e um elevado espírito de sacrifício. 

As palavras de Mohandas eram acompanhadas de atitudes fortes e consentâneas com a realidade sofrida pelos indianos. O governo inglês continuou falando nos compromissos e o líder indiano começou uma campanha mediante sacrifício pessoal por jejuns, que poderiam levá-lo à morte. 

Com uma existência de extrema simplicidade e modéstia, como um mísero penitente, seguiu o propósito, no qual se incluía a emancipação dos párias ou intocáveis. Eram milhões de infelizes, desprezados pelas classes superiores. Gandhi exigia que os templos, exclusivos para as classes superiores, as elites, fossem abertos aos não incluídos, frequentadas as casas santas, por tradição multissecular, somente pelos poderosos. O mahatma, a grande alma, foi assassinado por um fundamentalista em 1948.

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