Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Ásperos caminhos e origens

Publicado em 03/11/2016 às 18:50.Atualizado em 15/11/2021 às 21:30.

Belo Horizonte tem um novo prefeito, eleito. E não lhe faltarão problemas à frente, os mesmos que desafiaram sucessivas administrações e numerosos outros, que surgiram à medida que o tempo fluía. Nas cidades, não há soluções definitivas.

Em Belo Horizonte, que cresceu em velocidade acima da preconizada pelos seus idealizadores e projetistas, multiplicaram-se as demandas da população, cada vez mais exigente e múltipla. Por outro lado, a própria evolução da cidade impunha mais serviços em condições adequadas ao atendimento.

O contingente expressivo das pessoas que vinham do interior, em fluxos permanentes, conduziu inexoravelmente à formação de ajuntamentos habitacionais dispersos (favelas ou comunidades, como agora apelidamos), sem aprovação dos poderes públicos, sem qualquer planejamento. Casebres surgiram nas encostas dos morros e nas margens dos córregos, sem que a Municipalidade, em inúmeras oportunidades, pudesse propiciar a mínima assistência.

A cidade, supostamente capaz de oferecer conforto e condições de acolhimento aos que chegavam, foi-se tornando crescentemente desumana. Sem água, sem luz, sem saneamento básico, sem escola, transformou-se em um conjunto de deserdados da sorte, sem emprego fixo, sem escola primária para os filhos, sequer com alimentação condizente com suas necessidades essenciais.

Este o quadro que preocupa e inquieta porque crianças e adolescentes, sem educação e formação, formarão filas nos reformatórios que ganharam novas denominações e, finalmente, para as penitenciárias.

O reflexo pode ser encontrado, por exemplo, na extensa reportagem publicada no Hoje em Dia, na sexta-feira, dia 28 de outubro. Com foto de abertura na primeira página, chama a atenção para o problema da degradação dos bens públicos em Belo Horizonte. Milhões de investimentos se perdem com a ação de vândalos que picham as praças e demais logradouros e tudo que contêm. Retiraram-se dos banheiros pias e torneiras, placas são danificadas, em todos os lugares há os estigmas de pessoas que não têm sentimento nem compromisso com o patrimônio, que pertence a toda a sociedade.

A descrição da repórter Gabriela Sales sobre a matéria ora questionada merece leitura, a começar para que não se atire sobre o poder público toda a responsabilidade pelos malfeitos, que ocorrem entre nós. Denuncia-se: “funcionando, há pouco mais de dois anos, os espaços criados para integrar as linhas de ônibus (Move) e dar conforto aos passageiros estão tomados por pichações. Também há placas danificadas, pisos arrancados, banheiros quebrados e extintores de incêndio roubados”.

O resultado incide diretamente no bolso do cidadão que contribui com impostos e taxas para implantar e oferecer ambiente digno de uma população civilizada. São elas, em grande parte, contudo, os autores desses desvios de conduta. Perdemos os mínimos foros de civilização? A pergunta seria diferente da que comumente se usa: é esse o nosso povo, a nossa gente?

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