Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Começa a guerra do pequi

15/02/2021 às 18:13.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:11

Tudo começou quando o jornalista Luiz Ribeiro publicou, em periódico da capital, reportagens contando que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, protestaria contra a ideia de Montes Claros, cidade mais importante do Norte de Minas, seria oficializada como Capital Nacional do Pequi.

Em verdade, a titulação já era adotada há décadas, mas só agora um parlamentar federal, nascido em MOC (esta com quase 415 mil habitantes), o deputado Marcelo Freitas, acendeu a fogueira. Despertou o governador Ronaldo Caiado, que se ergueu contra a ideia. Está declarada a guerra Goiás x Montes Claros, um estado contra um município.

Luiz Ribeiro, nascido na cidade, como eu - ele ostentando o título de membro da Academia Montes-clarense de Letras -, percebeu que as chamas clareiam agora a extensão do problema. E o povo de sua/nossa terra é bom de briga, desde o tempo de apenas Arraial de Nossa Senhora da Conceição e São José de Formigas. Depois, no Segundo Reinado, com a rivalidade entre Liberais e Conservadores, só havia paz quando o interesse da cidade era reconhecido.

Caiado, formado na escola de valorosos conquistadores da terra goiana, médico e político atuante, com presença expressiva nos embates parlamentares e nas reivindicações de seu povo, considera chegada a hora de defender o pequi, que representa a culinária e a cultura goianas. Mas o mesmo dirão os montes-clarenses, que chegaram antes ao cerrado. Não retrocederão, até porque, já está cristalizada a fama do pequi mineiro, indispensável à mesa sertaneja e responsável por ponderável fração da economia regional. Sem esquecer o óleo e o licor.

Faço um depoimento pessoal: certa vez, esperando a chegada do trem de ferro lá pelas bandas de Granjas Reunidas, devorei, com a ajuda de um único amigo, também rapazelho, uma gamela inteira de pequi cozido. E sobrevivi.

Uma guerra de pequi se sentirá de longe, tal o poder de dispersão de seu cheiro em derredor, o que identificaria o campo de batalha, de que se afastariam decididamente os que não o suportam o odor. E não são poucos. Assim, o que me parece mais indicado é não se aproximarem os que não se interessam pela briga. Montes Claros é ciosa de suas responsabilidades e valores históricos e tem a experiência de 1930. Os inimigos que se cuidem.

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