Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Crueldade flagrante

Publicado em 17/07/2024 às 06:00.

Formam-se comissões e se promovem reuniões no âmbito legislativo e executivo para conter o desvario, mas permanece a crueldade sobre jovens negras e pardas no Brasil, impactadas pela violência de gênero. Os números que aparecem na Imprensa comumente dando ciência da evolução positiva desse grupo de cidadãos não correspondem à verdadeira situação.

Artistas pardas e negras conseguem alguma situação privilegiada em espetáculos públicos ou em televisão e rádio. Percebem cachês elevados, recebem aplausos em suas apresentações, tornam-se estrelas. Mas são exceções no universo de dificuldades, de até humilhações, para conseguirem um lugar ao sol, no rol das atividades comuns.

No Brasil, as mulheres sofrem toda sorte de infortúnios e são conduzidas a um somatório conhecido de dores para uma sobrevivência, até muitas vezes ainda subumana. As mulheres negras padecem mais duramente, ignominiosamente, se escurece a tez do rosto.

A vulnerabilidade socioeconômica contribui enormemente para submeter esse grupo da espécie humana a toda sorte de padecimento. São pessoas que nascem estigmatizadas, com imensas dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, recebendo salários menores e, em consequência, com maior dependência em relação aos parceiros e concorrentes.

Em nosso país, em que tanto já se exaltou a igualdade de direito, sente-se de perto, além de tudo, a influência criminosa do racismo, que não diminui a despeito de tentativas sucessivas nas casas dos três poderes. De modo que não causa surpresa o fato de crianças e adolescentes negras serem vítimas registradas por estupro, totalizando em torno de 40% de pessoas em tais condições, e correspondendo ao dobro da incidência comparativamente às meninas brancas. Não são informações desprovidas de consistência. O quadro integra um painel elaborado pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper, com base nos dados do Sistema Nacional de Atendimento Médico do Ministério da Saúde.

O levantamento aponta que seis de cada dez registros de estupro no país envolvem meninas com menos de 18 anos e com predomínio  de mulheres negras e pardas de todas as faixas etárias vítimas desse tipo  de ignomínia. Mais grave ainda: o índice de casos registrados só vem crescendo nos últimos anos.

Como um grande orador romano, pergunta-se: até quando se abusará de nossa paciência ou de nossa indisfarçada omissão?

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