Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Daqui 30 anos

Publicado em 31/08/2024 às 06:00.

Em outro agosto, no que se encerrará em um dia 31 igualmente, daqui a 30 nos, o Brasil estará registrando o centésimo aniversário da morte de Getúlio Vargas, que deu a vida para entrar para a história (como ele o disse), em 24 do oitavo mês do ano em 1954. Os que acompanharam as dez décadas que agora são do pretérito, não fizeram a evocação esperada no septuagésimo ano do suicídio no Catete.

O Brasil vivia uma das piores crises político-militares de sua história, que atingira o ápice após o atentado da rua Toneleros, no Rio de Janeiro - sede do governo -, em que pereceu a tiros um oficial da Aeronáutica, quando o visado era o jornalista Carlos Lacerda, a voz mais aguerrida contra o governo e, especificamente, contra Vargas.

Encontrou-se uma carta, ardentemente elaborada pelo ex-chefe do governo, já morto pelo revólver ao lado. O documento foi lido por Oswaldo Aranha, o companheiro que acompanhara Vargas desde as jornadas da campanha gaúcha. A Rádio Nacional foi ocupada pela Aeronáutica e a voz desapareceu. Mas estava escrito:

“Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-me e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente, os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de liberação e instauração do regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se a dos grupos nacionais, revoltados contra o regime de garantia de trabalho. A Lei de Lucros Extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional, potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, e mal começa esta funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o povo seja independente”. 

E terminara: “Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”. A fala de Vargas ainda ressoará?

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