Manoel HyginoO autor é membro da Academia Mineira de Letras e escreve para o Hoje em Dia

Devagar com o andor

Publicado em 26/05/2020 às 19:05.Atualizado em 27/10/2021 às 03:36.

A liberação de gravação da reunião ministerial do dia 22 de abril despertou mais do que curiosidade ou simples interesse: em verdade, uma ansiosa expectativa. O que seria natural, diante da polêmica e celeuma estabelecidas em torno das declarações do ex-ministro Sérgio Moro sobre a pretendida intervenção, ou não, do presidente da República na Polícia Federal.

Muito ainda resultará do conteúdo da reunião e de sua divulgação, que envolve interesses políticos múltiplos. Mas, chamará a atenção de toda a nação o baixo nível de intervenções de participantes do encontro, considerando o seu nível e representatividade. O brasileiro perguntará: é assim em tão alto escalão da República? Viu-se baixar, na sede do governo nacional, em momento de especial cuidado, o que se poderia até classificar de torpe linguajar dos segmentos baixos da sociedade. É fenômeno social e ético, que fere o decoro e o respeito que as pessoas se devem. No entanto, de nada vale asseio de forma sem limpeza de fundo, como ensinava um velho professor da língua.

Torna-se, a cada dia, mais difícil entender a maneira como sobrevive o país, com manchas e contra-manchas, afirmações e desmentidos, encontros e desencontros que, evidentemente, repercutem na sociedade. Esta atravessa período conturbado, e mais será quando desabarem as consequências da tragédia que atinge o mundo, de maior repercussão em nosso país. Ele não é o que se quer, porque estamos inchados de novos e graves problemas.

O xingatório e troca de acusações na reunião do dia 22, em Brasília, em nada contribuirá para amenizar os desafios à frente. Antes pelo contrário. O problema, por sua extensão e complexidade, pelo número de pessoas envolvidas, é extremamente perigoso para muitos. Moro, que entrou no caso por ser então ministro da Justiça, é apenas um personagem.

Atente-se que, somente há bem pouco, o empresário Antônio Marinho, que emprestava sua residência para encontro e local de gravação na campanha eleitoral está sendo inserido na questão. Certamente, terá muito a esclarecer. Não é sem razão que grande parte das investigações se concentram no Estado do Rio, domicílio eleitoral do ex-concorrente à presidência. E há os casos da vereadora executada Marielle Franco, até hoje sem solução; dos pretensos mandantes do crime, um dos quais residente no mesmo condomínio na Barra da Tijuca; o episódio da rachadinha, envolvendo salários de deputados à Alerj; o affair do miliciano homenageado pela Assembleia carioca e assassinado na Bahia. Juntando todas as peças dessas investigações, sem falar nas fake news, que aparentemente estacionaram no tempo e no espaço, haverá trabalho robusto para quem investigar e julgar.

Há muito caminho a percorrer para cumprir tão complicado itinerário. O chefe da nação tem carradas de motivos para perder as estribeiras como o fez, grosseiramente, no dia 22, que está entrando para a história. Se bem que nada justificam querelas com o Legislativo e os ataques ao Supremo Tribunal Federal.

Nem se justificam as expressões de simpatia a ditaduras, nas quais tanto já sofreram os brasileiros. Chega!

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